segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Endurecer sem perder a ternura

Esse texto foi originalmente publicado no blog "Azia e á digestão" em 04/06/2012

Crítico como procuro ser, quase sempre me pego apontando o olhar para o outro lado da trincheira. Hoje, no entanto, quero trazer algumas reflexões para @s companheir@s do lado de cá, não como advogado do diabo, nem numa atitude de fogo amigo, mas exercitando aquilo que há de mais valioso do que a crítica: a autocrítica.

Digo isso pois tendemos aos debates acalorados, as disputas acirradas, aos imbróglios que causam esparrelas entre os lados político e o pessoal. No entanto, me incomoda muito como a ânsia por mudanças ou as dores dos duros golpes sofridos obscureçam tanto a maturidade política de valoros@s companheir@s, bem como, sendo mais pragmático, façam desperceber o jogo venal que se encarregam de alimentar em termos de táticas para consolidação de suas ideias.

Observando o desenrolar dos “antes-durante-depois” de diversas eleições, debates, correlações-de-forças em espaços mais distintos, não se pode deixar de notar que o destempero é sempre danoso para nós que queremos uma sociabilidade para além do capital. Trazer o debate de ideias para o rancor é tirá-lo do campo que sempre desejamos e reproduzir um clima de revanchismo, mesmo que não seja essa a intenção. No clima quente da divergência a hostilidade e o pedantismo saltam ao semblante e a ponta da língua como uma tentação inexorável.

Criticar o proselitismo, a ineficácia, a falta de radicalidade de outrem reproduzindo o fofoquismo ou utilizando de uma linguagem ferina sem mediação não é somente a transformação imediata do crítico em criticado é também um tiro no próprio pé. Refletirmos se a maneira como estamos fazendo e falando está passando o que realmente queremos passar é crucial.

É imperativo que a afirmação de nossa radicalidade, algo caro e fundante, ultrapasse os dilemas e dores inevitáveis para que possamos saber o que fazermos com eles e não perdemos nunca nosso horizonte, chegando a nos nivelar no jogo baixo que tentam submeter.  Penso que a profundidade de nossos propósitos, bem como as estratégias bem delimitadas e posições explicitadas garantindo clareza e não esquecendo da dimensão pedagógica são elementos categóricos, atinentes á dimensão ética e afirmando também  certo amadurecimento para que possamos passar a mensagem sem que ludibriem nosso sentido.

Entramos numa seara que pede atenção à necessária dinâmica entre forma e conteúdo, entre estratégia e tática. Conteúdo sem a forma adequada é quase dispêndio vão de energia militante, forma sem conteúdo é a pura reprodução do status quo, ou seja, é exatamente do que trata a hegemonia atual, dos grupos políticos que disputam por cima a administração do capitalismo e que vem atropelando os processos de diversas organizações que se propõem a contraposição dessa lógica, ora por repressão, ora por cooptação. Nesse quadro desafiador afirmo que criatividade e inteligência são ferramentas essenciais.

Pensar a forma é mais que determinar linguagens e arregimentar um plano de excelência, mas exercitar a ética no cotidiano das ações e fazer diferente na radicalidade dessa expressão. Quando afirmo isso estou dizendo que a autocrítica é fundamental e que é preciso não moldar a realidade e suas determinações às nossas convicções e sim fazermos do real o alicerce de nossa ação.

Sei que esse é um exercício difícil. A indignação que nos é comum nesse mundo cada vez mais desigual soma-se muitas vezes às historias particulares de pessoas que sofreram e/ou ainda sofrem pressões e perseguições políticas, pessoais e profissionais ao longo do seu processo de construção coletiva, consequência da coragem de dizer “não” aos que estiveram e aos que estão se reproduzindo no possibilismo, no minimalismo, nos conchavos, nas negociatas rasteiras e na conformidade na política. Sei muito bem o que é isso. Esse tipo de situação muito corriqueira, diga-se de passagem, não pode transformar a militância crítica e radical em um amontoado de “rancorosos” (como querem fazer parecer os nossos reais adversários), mas em lutadores perspicazes e maduros para fazer frente na teoria e na prática de forma verdadeiramente diferente. Assim, saber o que dizer e o que fazer é tão importante do que saber como, quando e onde dizer e fazer.

Se ainda não deixei claro esse texto fala de firmeza. Não se trata de recuos, de abrir concessões e afirmar diálogos vazios, mas de garantir nossa radicalidade sem desvios de quaisquer tipos. Trata-se também da firmeza pessoal, da certeza de que não somos seres meramente reativos, amargurados pela nossa luta e nem temos o raso entendimento messiânico de carregar em nossas costas todo o peso do mundo. Ao contrário, trata-se da firmeza de que a luta perene e radical é não só legítima e necessária como o único caminho para a plenitude do gênero humano e, assim, negamos tudo que está posto que não condiga com esse sentido, somos dessa forma alegres, criativos e fortes na construção coletiva.

Discutamos projetos, posturas e não nomes, pessoas e grupos de maneira abstrata e vazia. Se a prática é o critério da verdade e se a confusa contemporaneidade faz com que na noite escura do capitalismo tardio o descrédito na política e na luta coletiva reproduza no senso comum que todos os gatos são pardos, é imperativo que tenhamos a firmeza do nosso conteúdo, as absolutas persuasões da direção e do sentido de nossa luta e, a partir disso, que possamos garantir a melhor forma de explicitar o que nos diferencia, materializando isso cotidianamente ao negarmos a maneira de fazer política hegemônica, tanto no plano universal, como nos planos particulares.

Esse indicativo de nossas proposições, a clareza da dureza do longo processo e o entendimento de que há um cunho coletivo intrínseco nessas questões tem de alicerçar os pilares para que não percamos a objetividade, nem dilaceremos nossas subjetividades.  Pouco vai adiantar encarar plenárias com pessoas que estão suspensas das particularidades dos debates e raivosamente se intitular como representante do melhor grupo. Não será nada produtivo fazer cara feia e reclamar de modo inveterado nos corredores, nas surdinas e porões dos processos vividos, sobretudo aqueles que já passaram.

A raiva e o rancor não são instrumentos políticos e eles causam muitos prejuízos no acúmulo de nossas construções. Quantas vezes vi pessoas afirmando que não conseguiam perceber as diferenças reais entre os grupos que se digladiavam em algum processo eleitoral (em âmbitos variados) ou ainda que se distanciaram de determinado processo pelo aparente "pedantismo, arrogância e demonstração de ódio pessoal" d@s integrantes de grupos que no início demonstravam coerência e integridade, mas mergulhavam no espetáculo imediato da disputa.

Utilizemos o passado, o distante e o próximo, como base histórica fundamental, mas vamos construir o presente olhando para frente. Não estou falando de nos calarmos diante dos absurdos, de vilipendiarmos nossas convicções ou muito menos de juntar todo mundo no mesmo saco e obscurecermos as divergências. Estou falando de não confundirmos luta com disputinha, convicção com raiva, radicalidade com sectarismo, compromisso coletivo com missão heroica e individual e, ao invés de combatermos o bom combate, afastarmos do nosso palco aquilo que afirmamos que nos diferencia dos outros.

Há ainda uma amenidade que deveria ser desnecessária falar, mas que não é: existe vida além de toda picuinha. Cumprimentar as pessoas, desarmar-se no dia-a-dia e saber distinguir diferentes espaços e planos tanto políticos como na vida pessoal é algo muito salutar. Quando descobrimos que existe gente interessante e que podemos conviver, respeitar, até aprender e mesmo assim discordar  deles no plano político, estamos praticando e dando uma lição de como fazer política com P maiúsculo.

Isso significa também encarar o adversário com firmeza, mas sempre perceber os seres humanos que estão ali, com seus defeitos e suas qualidades, encarando os seus grupos da mesma forma, percebendo avanços e retrocessos e a partir daí combater a estrutura contraditória que se reproduz a partir deles, não caindo jamais num “reclamismo” vazio de sentido, nem também afirmando um viés ingênuo e condescendente de mera conciliação.

Nas tortuosas e complexas vias desse caminho é preciso entender as mediações pedagógicas junto àqueles que estão se aproximando dos debates e do processo político para que não se exija tomadas de partidos superficiais, abruptas e sem convicções reais, para que não se transforme as sérias e necessárias reflexões públicas em clássicas gincanas. Não estamos numa mera competição ou numa conversão religiosa, mas buscando algo muito maior e mais concreto: A disputa político-ideológica é algo que se faz sem perder a noção de onde queremos atingir. Garantir uma construção profunda, firme e ética é primordial para o fortalecimento político que mira a emancipação humana.

Entre os aprendizados que os erros e os acertos vão nos fazendo acumular é central que passemos a desconstruir qualquer desvio de nossas convicções. Essa é uma luta cotidiana e que se fortalece desde a prática diária do fazer político, passando pelas reflexões individuais e coletivas e chegando também em todos os planos de nossa vida, exigindo coerência junto àquilo que defendemos.

Dito isso tudo, finalizo esse texto desejando que ele possa contribuir, mesmo não se tratando de uma análise teórica e política profunda, para que possamos enfrentar nossas lutas com coragem, lutando sem cessar, mas não enfrentando os moinhos-de-vento, mas sim @s verdadeir@s dragões. Nenhum tirano resiste a um opositor sorridente, convicto e feliz. Nenhum cinismo é capaz de resistir à prática ética, coerente e tranquila. Nenhuma injustiça vencerá a indignação politizada e insaciável pelo fim de toda desigualdade.

Conquistar corações e mentes para a causa revolucionária é também afirmar a ternura que existe em nós, mesmo aqueles que somos duros na queda. Engrossar o coro dos descontentes é também fazer entender que existe vida fora das divergências pontuais, que as pautas comuns podem ser conquistadas em comum e que a nossa política se afirma na prática combatendo também o debate rasteiro, o personalismo, o revanchismo e a politicagem. Vamos explicitar as divergências, trazer à tona as cisões desse sistema e avançar na construção de outro mundo sem exploração, sem opressão e sem relações calcadas na hostilidade, no “disputismo”, na vaidade, nas mentiras, na desigualdade e na competitividade.

Combater o bom combate é o que a conjuntura nos pede e a estrutura nos exige. Façamos isso com toda a força e energia que esse desafio nos permite, façamos isso também com muita indignação, mas também com criatividade e sorrisos. Saltemos nas ruas, nas praças, nas plenárias com uma prática viva e profunda e endureçamos, sem perder a ternura jamais, porque nenhum dos soldados do capital, nem adversários políticos em nossos espaços, por mais venais que sejam, podem nos tirar a alegria e a ternura de lutar, de amar e de viver com coerência.

Wescley Pinheiro - 04 de junho de 2012

domingo, 17 de novembro de 2013

Noite

Ratos da madrugada
Cães ensandecidos
Sirenes desafinadas
Um medo,  um muro, um marido
Um grito, um tiro, uma escada

Nada novo, não foi nada

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

A lição

Todos vão chegando
O campus lotado
Tumultuado
Tomado de gente
Tem gente ensinando
Tem gente aprendendo
Tem gente inventando
E reinventando-se
No meio da gente

E entre essa gente
Um desavisado
Que logo pergunta:
 - E hoje tem aula?
A gente responde:  - Tem!
E é fora da sala!
No meio da rua!

Os/as estudantes ensinam:
É dia de greve
É dia de luta!

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Clichê

Inicio pedindo desculpas, pois hoje não venho escrever poesia, nem conto, nem crônica. Hoje venho trazer um simples clichê. Sim, uma pieguice dessas bem repetidas, batidas e rebatidas, como um velho ditado ou uma canção popular de amor.

Carrego esse clichê como um sujeito que levanta um cartaz onde está escrito “eu já sabia”. Um cartaz comum, onde todos leem e logo pensam “nós também, todos já sabem”. E é verdade, todos já sabem. E apesar disso o cartaz precisa ser levantado, pois de tanto todos saberem, alguém precisa lembrar.

Essa é a maldição e a dádiva de qualquer clichê. Ele está claro, concreto e posto em nossa frente, o vemos e não enxergamos. Ele é a pedra que você tropeça, é aquele móvel que sempre esteve ali no mesmo lugar e, mesmo assim, você vai e bate sua canela com toda força, pra depois sair gemendo de dor.

O clichê é a caneta que você procura desesperadamente para anotar um recado, quando de repente percebe que ela está dependurada em sua orelha. Você se acha um bobo, rir de si mesmo, pega a caneta e quando vai anotar o recado já o esqueceu.

É imperativo lembrar das obviedades, daquilo que julgamos desnecessário pensar, e falar, e fazer. Recordar aquilo que subitamente nos salta aos olhos, nos coloca o velho e novo numa coisa só, nos deixa no ridículo de nossa pequenez, nos emociona, nos ensina, delata a ineficiência de nossa suposta autossuficiência, nos põe no chão.

Nesse clichezinho brega e melódico que carrego existe um elemento próprio de todo clichê: a sua verdade. Trago nele a obviedade subestimada, naturalizada sob os mecanismos obscuros das repetições.

Pois é, nesses últimos dias um clichê me pegou. Agarrou em minhas costas e me fez carregá-lo por cima de minha solitária pretensão.  Agora eu preciso falar dele, sobre ele, ainda que pareça tolice. Mesmo que esse texto se revele ingênuo e medicante em essência poética, frígido de rigor teórico. Ainda que se confirme em seu inequívoco, pobre e inglório lugar-comum.

A vida me exige um chavão. Sinto-me tentado, mais que isso, convocado, impelido ao testemunhar seu poder inexorável. Preciso falar de amizade.

Sim, é isso, preciso falar de amizade. Esse termo curioso, plural ainda que singular. Essa relação dotada da mais complexa diversidade de expressões, a mais evidente manifestação de nossa necessidade do outro, do coletivo, do nós.

Clichê: Não há nada mais precioso que cultivar boas amizades. Mesmo que poucas, ainda que raras ou adormecidas pelo tempo e pela distância. Cercar-nos de pessoas boas nos revela, quando menos esperamos e quando mais precisamos, o valor da amizade.

"Valor da amizade"? Sim, eu avisei e já pedi desculpas de antemão, é clichê. Todo clichê é meio assim, meloso, impreciso, ora com gosto de açúcar, jeito de filme da Sessão da Tarde, ora com aquele ar de refrão de música brega. 

Nesses dias de agonia e grandes dificuldades a vida me lembrou: cada amigo verdadeiro, cada pessoa boa em nossa existência, tem o poder de anular cem pessoas más e seus melindres. Para cada desafio imposto pelos grandes problemas, o poder de um pequeno (ou gigante!) gesto amigo basta. A amizade é, sobretudo, um trunfo que a vida nos permite.

Hoje me sinto privilegiado por carregar esse clichê, sinto-me grato por precisar repeti-lo. Hoje preciso agradecer à vida por me lembrar dessa obviedade, por me colocar de frente com esse chavão: não há nada mais precioso que cultivar boas amizades.

Eis o clichê, senil e original, escasso e valedouro, fugaz e infindável. E é por isso que hoje não vim escrever poesia, nem conto, nem crônica. Hoje vim apenas trazer esse simples clichê. Uma pieguice dessas bem repetidas, bregas, batidas e rebatidas, como um velho ditado ou uma canção popular de amor.

Dou-me ao luxo e ao lixo do clichê, por que ele vem recheado de gratidão. Hoje eu sou todo chavão e chinfrim! Que venha o brega, que venha a canção de amor, o teor exagerado, a frase feita que foi feita para isso.

Certa vez, disse um poeta, “a amizade é o amor que nunca morre”. Não há nada melhor e mais clichê que um amor eterno.


Aos meus amigos e amigas, meu muito obrigado.


terça-feira, 6 de agosto de 2013

Mordaz

O acalanto da dor pútrida pousou em mim
Cambaleou como quem se desespera
Sussurrou mordaz como a coragem vazia
Que só os sobrepujados amargaram sem fenecer

O acalanto da dor pútrida pousou em mim
Com a volição de quem abocanha o seu fado
E tem somente o vácuo jaz em seu pobre paladar
Ante o gozo deletério dos tiranos
Que perpetuam suas carícias dolentes
Denunciadas na mordaça e no silêncio
Bradando tenazes como o medo na penumbra
De quem sucumbe sob o domínio falaz

O acalanto da dor pútrida pousou em mim
Já é noite, o tempo urge e eu aqui

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Média

Surge a nova classe mídia
Na média televisiva
Que visa, que compra, que deve
Deve sempre evasiva
A classe média tem visa
E visa nova investida
A média da nova classe
É pequena e imprecisa
E precisa de disfarce
Pra esconder carne viva

A nova classe é velha
Já é velha conhecida
Telefone, telemarketing
Televisa a decolagem
Da classe mídia atrevida
A classe tem até vida
Merece ser aplaudida
Compra tênis da adidas
Vê na tela sua face
Com imagem colorida
Que cobre a média da classe
E passa despercebida

Viva a nova classe mídia
Viva a média nova classe
Viva a mediocridade
Da média classificada
Mediando o tudo e o nada
Em meio a desigualdade

terça-feira, 18 de junho de 2013

Quem tem medo dos Partidos? (ou as mentiras que nos contam por aí)



Não é sobre vinte centavos, não é sobre a Copa, não é sobre a corrupção. É muito mais que isso! De tantas cenas emocionantes, instigantes e de esperança que aparecem nesses últimos dias o contra-ataque que se arregimenta ante a força do povo nas ruas vem de diversas formas e muitas mentiras são ditas por aí.  Diante delas eu afirmo: o Brasil não acordou agora, Arnaldo Jabor não errou e se arrependeu e a polícia não é despreparada.

Primeiramente é preciso dizer que a alegria e euforia de hoje precisam ser canalizadas para os verdadeiros inimigos. O fortalecimento desses levantes é fruto de anos e anos de lutas em que movimentos sociais mais diversos, sindicatos e partidos verdadeiramente de esquerda vieram construindo sob a invisibilidade e a criminalização da mídia, do Estado e de muitos outros setores. Os movimentos feminista, negro, LGBT, das classes trabalhadoras, entre outros, com seus limites, desafios e problemas nunca dormiram. 

Enquanto Jabor titubeia num "eu errei" cínico e revelador de que a direita reacionária buscará se apropriar dos protestos também, a Folha de São Paulo se obriga a mostrar uma cobertura distinta da repressão que cobrou em seu editorial, logo depois de ter seus próprios funcionários como alvo do aparelho repressor que esse veículo tanto apoia. Não nos enganemos! A polícia não é despreparada, nunca foi. A polícia é preparada para aquilo. Ela é treinada para o não-diálogo, para a violência, para a repressão do povo trabalhador.

Diante dessa linda e diversa manifestação a mídia burguesa acabou tendo que mostrar o inevitável, aquilo que sempre acontece nos atos, que sempre acontece com os jovens negros na periferia, que sempre é inviabilizado e/ou manipulado por essa mídia hegemônica e conservadora. Hoje com uma notinha na rádio bandeirantes aqui, um comentário na ESPN acolá e muito conteúdo circulando na internet a verdade das ruas vai saltando devagarinho, respingando no monopólio que comanda os meios de produção, o Estado e meios de comunicação de massa. Não há projeto, direção, mas há fagulhas de rebeldia e insatisfação que se espalham a cada ato de repressão e isso já é motivo para o sinal amarelo dessa elite está ligado. 

Fiquemos atentos, pois o contra-ataque não será pequeno. Não caiamos nas armadilhas do sectarismo ou  do discurso pequeno burguês de apoliticismo, esse é o jogo do poder. Não temamos lutar, mas temamos que nossa luta seja reacionária. Disputemos os espaços, vamos refletir nossas ações e continuar ganhando essas ruas contra os governantes de todas as siglas que governam contra o povo trabalhador, mas centremos nossas forças também e principalmente naqueles a quem eles representam de fato. A negação e a crítica aos partidos de esquerda é um tiro no pé, é um erro de avaliação, uma mudança de foco que só desmobiliza, que só faz com que nos concentremos nos pormenores e não no sentido geral das mobilizações.

 Reinventar a política sim, negá-la jamais! Superar a discussão eleitoral e eleitoreira é urgente e isso se faz justamente qualificando os espaços, disputando pautas, bandeiras e concepções. É chegada a hora de centrar a luta contra aqueles que lucram com nosso sofrimento, com a exploração do trabalho, com as opressões mais diversas. É preciso negar sim, mas é preciso propor o novo, o diferente, o divergente, o projeto coletivo que seja profundo, coeso e que vá até a raiz de nossos problemas.

E por que os partidos combativos e movimentos sociais que estiveram aí se contrapondo e se organizando por tantos anos contra os desmandos da burguesia e seus representantes políticos, inclusive construindo, divulgando e militando nesses atos desde o início, quando as pessoas mesmo diziam que "não tinham acordado", porque eles agora não poderiam mais participar? De quem é o verdadeiro oportunismo se esses partidos não caíram de paraquedas nos atos? Há algo de muito estranho nessa onda "apartidária"/anti-parditária reforçada pela mídia.

O pior discurso é o discurso depois do conformismo, é o discurso fatalista, ele não tem proposta, nem se aprofunda na crítica, diz que tudo e todos são iguais e pronto, fim! Fim? Fujamos dessa armadilha! Não caiamos no jogo da direita, da Globo, da mídia como um todo. Eles sim querem desvirtuar, despolitizar. Ninguém precisa ser militante desses partidos, nem concordar integralmente com suas pautas a priori, mas rechaçar de forma indiscriminada é tudo que a classe hegemônica quer para se manter e utilizar do oportunismo populista para aprofundar seu projeto. Nenhum partido pode ir lá se aproveitar, tutelar ou manipular as lutas, mas ninguém pode sair indiscriminadamente violentando o direito dos manifestantes levarem suas convicções políticas para a luta se ela é coerente com o projeto de sua organização e se está de acordo com as pautas das manifestações.

A direita quer generalizar, colocar todo mundo no mesmo saco para fazer com que essas manifestações sejam meros episódios e não se transformem em algo duradouro! Deixemos os coletivos, organizações, entidades de luta, com suas divergências, projetos e métodos democraticamente participarem sim dos protestos, não neguemos o direito de diversamente nos unirmos. Se o medo é o do aparelhamento que o povo não deixe isso acontecer, mas saiba os motivos e os métodos para isso, pois os partidos de luta devem ou deveriam ser do e para o povo trabalhador e não somente o povo trabalhador ser dos partidos, é uma linha tênue, mas negar isso é muito mais perigoso, pois é a porta aberta para o fascismo, assim como na ditadura brasileira ou no nazismo o discurso também foi de supostamente negar a política. 

A direita e seus grupos tem medo de que a revolta se transforme em revolução. A direita vai à rua e à mídia elogiar os movimentos que antes criminalizavam. Ela fala em pessoas de branco, sem partido, buscando direitos, felizes, exercendo sua cidadania. A elite quer desmobilizar, caricaturar, disputar os rumos por dentro visto que não conseguiu com o microfone e o cassetete.

A direita tem medo de projeto, de direção e de organização. Ela tem medo da palavra radical e a coloca sempre de maneira enviesada. Ela quer carnavalizar as lutas, transformar em passeata pela "paz", pela "ética", "contra a corrupção" e outras coisas para que se acabem no nada. A direita quer inclusive fingir que não há direita nem esquerda. Ela quer fingir que não há diferenças partidárias, que não há ou não deve haver coletivos, apenas indivíduos insatisfeitos, espontâneos e só. O desafio agora é o aprofundamento dos levantes, a síntese da linda fagulha acesa, a formação e organização política para além do que é de hábito e aí a direita não vai mais dormir!

Quem tem medo de partidos radicais, emancipatórios, de luta é a elite, é a burguesia. Quem odeia trabalhadores organizados são aqueles que lucram com os baixos salários, com os altos preços, com a corrupção do Estado. Não é somente vinte centavos, nem sobre a copa, é sobre direitos dizem todos. O direito de protestar, o direito de acreditar na organização e na luta coletiva, o direito de acreditar na mudança e o direito de duvidar das mentiras que nos contam por aí, como aquelas que sempre espalharam de que brasileiros não protestavam, de que protesto era coisa de vagabundo e de que política é coisa de ladrão. Política é coisa nossa e é lá na rua que a gente vai mostrar isso!

Naquela esquina ali em frente se encontra essa interrogação da poesia: mudar de emprego ou mundo? Mudar o preço da passagem ou mundo? Mudemos tudo e não deixemos nos confundir com o discurso de "apoliticismo", "pacifismo", "eticismo" que estão querendo impor, pois a direita, a tv, os governos, a burguesia estão tremendo que a REVOLTA vire REVOLUÇÃO!
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Revolta!

Correram sem direção
Sem sangue nos olhos
Com pedras nas mãos:

“É tara! É tora! É tiro!”
Marcharam... murcharam!
Um belo suspiro
Durou um segundo
Pois não decidiram
Dilema profundo:
"Mudar de emprego
Ou mudar o mundo?



Wescley Pinheiro
Assistente Social, poeta, não filiado a nenhum partido.

domingo, 9 de junho de 2013


No dito pelo não dito
À mercê do improvável
Sob as mãos do improviso

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Composição

Aperta o peito
Esse pavor inominável
Embora já o tenha classificado como pavor

É um sufoco fluido e inconstante
Percorre friamente o interior de meu corpo
Se espalhando para as periferias
Até ultrapassar a epiderme
E propor à minha áurea
Um acordo entre esse medo incomum
E o vento suave que toca minha pele 

Agora sou o teatro,
Sou palco, sou público
Assisto e choro
Enquanto ambos aceitam a dança
E mergulham numa valsa mordaz
O medo e a brisa bailam por sobre mim,
Correm da cabeça aos pés
Cantarolando desânimo e insônia,
Rodopiando pesadelos em passos descompassados
(Ainda que belos)
Como num número improvisado
Artisticamente voraz
Um espetáculo que não assisto estático
Que me coloca em desacordo
Onde retorço minhas pernas
Encolho meus braços
Arregalo os olhos
E grito para depois calar.

O ritmo vai perdendo fôlego
Ao passear em meu corpo
E volta resignado ao meu peito.

É hora de nova música
De uma melodia que ajude a ampliar
O espaço
Que silencie esse aperto inominável
Embora eu já o tenha classificado de pavor.

Que fechem as cortinas, por favor.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Carga



Uma tonelada de escolhas em seus ombros
Nas costas, os desejos e seus escombros
O ontem amarrado em seu pescoço
O peso do presente na cabeça
E o medo do amanhã no coração

Haja pés, haja mãos

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Maio


Uns tomando no cu
Outros a decisão
De tomar uma cerveja
Para o lucro do patrão

terça-feira, 30 de abril de 2013

Transação


Do solo do salão e do salário
O rosto do roçar resta no rócio
Na sala e no suor do solitário
A transa não é gozo, mas negócio
O ócio é oneroso para o sócio
O selo do consócio é salafrário
Não há prazer, mas peso e um prontuário
Entre aquilo que é preciso e o necessário

O gozo horroroso é puro erário
A transa assediada em sacerdócio
E o dia é debitado num diário
Ocupa o colo oco o dolo ócio
Ainda no ardor de tal aviso
O troco roto de um prejuízo
Que teve em seu transe temporário
Só isso resta no que é preciso
E falta no que é tão necessário

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Procura


Lá está o poeta
Diuturnamente incansável
Procurando seu verso inexorável
Não nas estrelas, não no luar

Lá está o poeta  tentando encontrar
A poesia escondida no mendigo
Que dorme na Praça José de Alencar

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Pós


Um gole de gala
Um galo de briga
Um fole de fala
Um doido que diga
Uma voz vazia:
"Deu enter
Fez poesia"

quarta-feira, 24 de abril de 2013

O CAUSO DE ZÉ FIRMINO


Hoje trago novamente mais um vídeo-exercício  das oficinas Projeto*. A história desse aí foi a seguinte: fizemos o enredo coletivamente em sala, os personagens, o desfecho, depois eu fiz o cordel e filmamos em duas tardes de maneira improvisada. O resultado foi esse aí, bem amador, de brincadeira mesmo, mas não menos divertido, hehehe:



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O CAUSO DE ZÉ FIRMINO


Hoje venho lhe contar
O causo de Zé Firmino
Que era um jovem bom
Honesto desde menino
Mas meteu-se em confusão
E quase que esse refrão
Revira o seu destino

Zé era muito franzino
E sua vida era assim
Do trabalho ia pra aula
Morava no Bom Jardim
Lutava por seu futuro
Sem se meter em apuros
Pra conquistar o seu fim

Mas a vida é assim
É cheia de presepada 
E na vida desse Zé
Uma peça foi pregada
É que o pobre foi parar
Onde não devia está
No lugar e hora errada

Vejam só que emboscada
Escute e Participe
Pois  ao voltar do trabalho
Na Rua Oscar Araripe
Andava tranquilamente
Simpático como sempre
Cumprimentou João Filipe 

Felipe ansioso disse 
“Estava te procurando
Preciso de sua ajuda
Continue caminhado
Mas escute com atenção
O que pedirei então
Pois vou logo lhe explicando”

Meu parceiro João Felipe 
Disse o Zé educado
Por que tá com essa cara
Você está assustado?
E o que tem nessa sacola
Parece fraco da bola
Falando todo acuado”

O tal Felipe enjoado
Respondeu logo depressa
Ômi deixe desse lero
Ora que conversa é essa
Estou aqui na limpeza
A tarde tá uma beleza
Só estou meio com pressa

Continuou a conversa
O João Felipe malaca
Disse tenho uma visita
A uma prima que tá fraca
A bichinha adoentou
Por isso peço um favor 
Pra você que se destaca

É destaque e sempre emplaca
Quando o assunto é bondade
Por isso que eu repito
Que faça essa caridade
De cuidar dessa sacola
Enquanto eu dou o fora
E volto pressa cidade

Zé cheio de amizade
E também de emoção
Mandou o João Felipe
Acabar com o sermão
E ir cuidar de sua prima
Sem saber que essa rima
Causaria confusão

Caminhando sem noção
De onde ele se metia
Foi quando viu uma moça
Com o nome de Maria
Que gritou “minha sacola!”
Agora ninguém me enrola
“Esse ladrão já expia”  

O Zé já sem alegria 
Meteu o Pé na carreira
Com a policia e Maria
Atrás feito estribeira 
Zé se dizia inocente
Pois um cidadão não mente
Nem comete essa besteira

Sem ouvir a choradeira
O guarda corria atrás 
Queria prender o Zé
Não daria trégua mais
Até que o Zé cansou
E chorando se humilhou
Pedindo Acordo de paz

“A justiça julgarás”
Disse a autoridade
Foi quando chegou Maria
E percebeu a maldade
Que fizera com inocente
Que era um rapaz decente
E ia pra trás das grades

Foi na curiosidade
Que percebeu o bandido
Era o tal de João Felipe
Atrás do poste escondido
Aí Maria gritou 
O guarda se apavorou
E correu aborrecido

Correram aborrecidos
O Guarda, Maria e Zé
Pra pegar o João Felipe
Mais o ladrão deu no pé
E ao perceber um muro
Resolver dá logo um pulo
Se safar num cangapé

Ao cair quase de pé
 Surpresa e decepção
Tinha dois policiais
Esperando o ladrão
Percebeu que aquele muro
O deixava em apuros
Era o muro da prisão

A sua desatenção
Deixou a situação feia
Não percebeu que sua fuga
Acabava na cadeia
Agora tava de vez
Morando lá no Xadrez
Com medo do mói de pêia

E o Zé esbadeia
Com a nova companhia
Nosso herói se deu de bem
 Namorando com Maria
Conseguiu felicidade
Com a sua honestidade
Só vive na alegria

Acaba com honraria 
O causo de Zé Firmino
Mas é só mais uma historia
Pra lembrar do desatino
De quem vai pro lado errado
E acaba esfolado
Pelo seu próprio destino

Livre estava Zé Firmino
João Felipe atrás das grades
É assim que terminou
Essa historia de verdade
Pra mostrar pra esse povo
Que quem se ferra de novo 
É quem age com maldade

Por isso que honestidade
Nunca fez mal a ninguém
O Zé lutou pela paz
E nunca enganou também
Sabendo que o bom caminho
Apesar de seus espinhos 
É o caminho do bem. 

Wescley Pinheiro

--
* Vídeo realizado como exercício na Oficina de Audiovisual do Projeto Protejo - Núcleo Bom Jardim - Fortaleza-CE Ano 2010 com jovens de 15 a 24 anos daquele bairro. A oficina foi de 8 dias, constava com um panorama dos conceitos básicos do audiovisual, introdução a linguagem, iniciação prática com novas mídias e análise fílmica. A qualidade do vídeo original era muito melhor, mas uma tragédia com o meu computador fez com que eu perdesse os arquivos. Direção e texto foi minha: Wescley Pinheiro. O roteiro e atuação de toda a turma.
O PROTEJO foi um Projeto dentro do PRONASCI do Ministério da Justiça com parceria da Guarda Municipal de Fortaleza, executado junto com o Núcleo de Pesquisas Sociais da UECE do qual fui bolsista.

terça-feira, 23 de abril de 2013

A Coisa


A COISA: “Jovens encontram uma coisa estranha no chão. O que seria?"


Segue agora uma produção momintiriana que quase ninguém conhece. Tirando da gaveta um vídeo realizado como exercício na Oficina de Audiovisual do Projeto Protejo - Núcleo Bom Jardim - Fortaleza-CE Ano 2010 do qual orgulhosamente fiz parte, junto com jovens de 15 a 24 anos daquele bairro. Esse pequeno vídeo é incapaz de mostrar o quão aquela experiência foi desafiadora e importante. Agradeço imensamente ao NUPES pela vivência daquilo tudo.

A oficina foi de uns 8 dias e constava com um mero panorama em conceitos básicos do audiovisual, introdução a linguagem, iniciação prática com novas mídias e análise fílmica. A qualidade do vídeo original era muito melhor, mas uma tragédia com o meu computador fez com que eu perdesse os arquivos.
Direção e edição foi minha: Wescley Pinheiro
O roteiro e atuação de toda a turma.

O PROTEJO foi um Projeto dentro do PRONASCI do Ministério da Justiça com parceria da Guarda Municipal de Fortaleza, executado junto com o Núcleo de Pesquisas Sociais da UECE do qual fui bolsista.







domingo, 14 de abril de 2013

No Fiapo indica: Aperte O Alt!


Olá amigos!
Decidi que abrirei uma seção aqui nesse meu lugarejo virtual para colocar algumas dicas do que leio no ciberespaço. A intenção é trazer para aqueles que não conhecem os divers@s autores de qualidade que temos por aqui e não prestamos atenção. Essa iniciativa visa também dinamizar isso daqui, visto que a correria do dia-dia torna difícil a (já nada fácil) empreitada criativa desse pequeno e iniciante escriba que vos fala tão despretensiosamente.

Sei... não sou um grande escritor, estou aqui exercitando, em formação, brincando, errando e acertando e adoro quando recebo uma boa crítica ou um incentivo, quando divulgam, quando indicam, quando dizem que há algum sentido nisso tudo. Foi assim que me convenceram a escrever.

Sei também que é muito legal ler e compartilhar por aí trechos de noss@s grandes escritores e coisa e tal, mas abrir-se para o novo, para as letras de gente viva, gente do nosso tempo e que pode está do nosso lado pode ser uma experiência incrível! É óbvio também que nessa terra de ninguém e de todo mundo que é a internet tem muita coisa de qualidade duvidosa, mas a intenção é justamente dar vazão ao potencial, ao talento, a qualidade que podemos garimpar por aqui, nessa maneira de fazer arte, de espalhá-la e de buscar um lugar ao sol num tempo e num lugar que, cá pra nós, não valoriza a literatura como deveria.

Dito isso, digo que nessa seção encontrarão autores iniciantes, autores publicados, geniais, outros nem tanto, mas todos com algum talento e, sobretudo, textos que me chamaram atenção em algo, ou seja, um critério mais subjetivo do que técnico (nem tenho competência para tal). 

Inauguro essa seção indicando um blog que conheci há muito tempo, que acompanho com certa frequência e que de certa forma me estimulou a alimentar meu blog de maneira mais séria. O blog que indico hoje já  é consagrado e referência! Falo do “Aperte o Alt” do talentoso Renato Alt que traz (entre outras coisas) pequenos e valiosos textos em prosa que encantam, prendem a atenção e fazem pensar.

Salvo o engano, conheci o “Aperte o Alt” por via de um blog de humor ,o kibeloco.  Com uma referência tão escrachada, entrei de maneira tão despretensiosa, quanto foi minha surpresa com o conteúdo simples e denso que Alt me trazia. Li compulsivamente e tive vontade de escrever também, senti-me estimulado.

Não é por acaso que o blog já ganhou alguns prêmios e é um dos mais visitados do gênero. Renato Alt é versátil, vai da densidade à descrição do cotidiano em seus textos sem nenhum esforço maior. Sua variedade aparece também no contraste de suas temáticas e estilos no blog quando comparadas com as hilárias tiradas nas frases do twitter e facebook.


No limiar da rapidez da vida, sobretudo da internet, acabo não acompanhando tão regularmente os textos, mas sempre que posso volto, descubro e redescubro coisas incríveis.

Por isso indico: leiam o "Aperte o Alt"! http://aperteoalt.com.br

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Bruto



Espectro culto
Especulo o verso astuto

Espetáculo
Simples sepulcro
Um verso, um voto
Um vulto

terça-feira, 2 de abril de 2013

Revolta!


Correram sem direção
Sem sangue nos olhos
Com pedras nas mãos:

“É tara! É tora! É tiro!”
Marcharam... murcharam!
Um belo suspiro
Durou um segundo
Pois não decidiram
Dilema profundo:
"Mudar de emprego
Ou mudar o mundo?"

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Receita


Dentro da gaveta
Trocado por um medo raro
O cara comprou regozijo
Curado de cara e tão caro
Nos dentes de um nobre capeta

Feliz...
Até o último tarja preta!

sexta-feira, 29 de março de 2013

No Fiapo - Blog - Página no Facebook


Eu podia tá matando, eu podia tá roubando, mas to aqui divulgando a página no facebook desse humilde e limpinho blog: http://www.facebook.com/NoFiapo

Como quase todo mundo só vive de/no/com/para facebook resolvi criar uma página para o NoFiapo meu blog-laboratório-gaveta-pessoal de poesias e prosas.

Muita gente acompanha os textos no blog, alguns outros no meu perfil pessoal. Aqui ficará mais fácil de divulgar minhas ousadias. Se gostarem, desgostarem mas mesmo assim acompanharem ou se tiverem ao menos curiosidade curtam, compartilhem a página e os textos e comentem!

Nunca me considerei escritor. Na verdade não me considero (não um bom pelo menos). Mas de tanto me dizerem (e era gente que entende disso) que o que eu escrevia era bom, que eu tinha sim potencial artístico, eu fui me atrevendo a mostrar para outras pessoas e essas foram gostando e compartilhando e eu fui acreditando nesse povo.

Nesses poucos anos de aventuras poéticas, algumas seleções em concursos literários, participação no livro III Antologia do Bar do Escritor e quase dez mil acessos no blog tenho me considerado um escritor em formação. Se daqui a uns 15 anos eu tiver com algumas coisas escritas muito boas o meu atrevimento valeu a pena.



No Fiapo é pura pretensão de uma arte simples e despretensiosa.
fi.a.po sm (de fio) 1 Fio tênue. 2 pop Quantidade ou porção insignificante... "O coletivo de um homem só, falando do nada e pra ninguém..."

Wescley Pinheiro

quinta-feira, 28 de março de 2013

O Reino das Onças Pretas


Não parecia, mas era sim um local especial, um reino onde atravessaram muitos habitantes que com suas missões e percalços fizeram dali um canto peculiar. Patos, bodes, cururus, galos, galinhas, urubus, pavões e cobras encontravam-se nos anais de nobres barões do solo arado e da poeira constante que encobria tanta dor e magia. O antigo riacho avermelhado propagava a maldição de uma terra que haveria de ser vivida em sangue, suor e lágrimas, mas nada disso tirava a felicidade inerente de suas vielas. As tocas das onças abandonadas davam lugar aos ninhos, repletos de luxo e alegria, espalhados nos buracos do chão árido ou nos galhos das oiticicas, enquanto nos grandes e apertados currais milhares de ovelhas se amontoavam e viviam contentes sem saber por quê. Esse era o maravilhoso Reino das Onças Pretas!

Diziam os mais antigos que essa terra havia nascido pelo avesso. “E terra nasce?” – perguntou um desavisado  – as coisas por ali não tinham muita lógica mesmo. Era um pequeno reino, muito, muito pequeno. Na verdade, só quem acreditava que aquilo ali era um reino eram os próprios habitantes dele, pois esse reino tão pequenino se encontrava dentro de outros reinos muito maiores, poderosos e ricos, o que o tornava uma parte quase insignificante quando olhava-se de fora.

A terra um dia muita seca, agora regada por bastante água, continuava a não fornecer tantos frutos assim  e estranhamente ainda morriam de sede boa parte dos habitantes. O sol escaldante permanecia tomando conta do lugar, aliás, o suor era uma das coisas mais democráticas dali. Servos, plebeus, nobres e reis, todos e todas suavam muito, alguns de tanto trabalhar naquele calor característico, outros ao cumprirem a função natural dos brindes diários e darem suas goladas com as mais populares bebidas - atividade para lá de cansativa - diria muitos dos habitantes do belo lugarejo. Essa era a crença daqueles fartos e sortudos viventes dos ninhos e também dos sedentos moradores dos currais. Não era um lugar ruim, nem os seres que ali estavam eram de má índole, todos só acreditavam cumprir seu papel no roteiro destinado seja lá por quem.

Era um reino diverso, mas todos tinham hora, lugar e função específica. A disciplina com a manutenção de tudo era tida como natural até no caos, na farra, na festa e na disputa que se avizinhava em tempos como aqueles dentro da Corte. E diferenças nos seres vivos era algo que não faltava ali, tinha de tudo, no entanto um curioso elemento era evidente: aquelas que davam nome ao lugar estavam vez mais raras até na memória dos mais antigos. As temíveis e belas onças pretas de outrora, antes tão numerosas, caíram em ameaça de extinção, tornaram-se inofensivas ante a esperteza dos répteis e das aves e seus talentos infindáveis de transformar todas as outras espécies em ovelhas obedientes, presas em seus currais. O tempo não era de onças com aquela rapidez e ousadia peculiar, o tempo era de encantamento com belas plumas ou de curvatura resignada para  as perspicácias daqueles que rastejavam sobre solo fervente. Onças e suas rebeldias nunca foram tão eficazes na dinâmica da Corte que há muito tempo já se consolidava na rivalidade de répteis e aves.

Para ser bem específico, apenas uma onça velha e maltrapilha vivia em meio àquelas aves que não tinham grande capacidade voo, mas que cultivavam a inveja alheia pela postura elegante e pelo rabo robusto, e daqueles répteis não venenosos, mas com o talento da asfixia inato dessa espécie, determinando admiração pelo seu bailar rasteiro cheio de capricho. Sob o céu e sobre a terra, qualquer aparente dissidência na região da Corte Real era apenas um novo adorno de penas aqui, uma troca de pele acolá, fazendo com que as espécies que orbitavam o lugar lembrassem que o tempo das feras selvagens deveria ficar apenas no folclore e nas histórias de trancoso.
   
Havia algo mágico ali que os colocavam para dentro de uma trama obsessiva. O jogo constante era a dinâmica do reino que através da ludicidade vivenciava seus dilemas e contradições, ao passo que decidia sua organização num carnaval ou numa gincana animalesca que ninguém nunca abriu mão. Reinar ali era brincar dentro da Corte para animar o curral - "céu para as aves, terra para os répteis e animação para os outros animais" - assim era ensinado para todos e todas que ali chegavam.

Como já era esperado nas épocas do festejo sagrado, os últimos dias foram de grande movimentação. Na ala dos plebeus tudo continuava igual. Aliás, disso não se podia reclamar. Num reino que não gostava de mudanças os diversos imbróglios no pequeno e aparentemente heterogêneo grupo da corte nunca alterou de forma significativa a vida daqueles que só suavam nos pormenores da labuta. Difícil mesmo era a vida na região dos Castelos - “Tantas dificuldades, confusões, confabulações, tanto fardo político para carregar” – pensava um - “Nossa, não era à toa a dificuldade de um Rei se segurar no trono” – outro garantia!

E assim a vida se arrastava pelo caminhar do sol e da lua por tempos e tempos.  Na movimentação alegórica tradicional lá estavam eles de novo, os de sempre, nos mesmos papéis: A velha troca de acusações, as mesmas parábolas e anedotas, a tentativa de impressionar os servos que de longe assistiam o siricutico dos bichos no espetáculo perene, com ápices naqueles esperados roteiros dos períodos bianuais. Era hora da agitação! Músicas, números artísticos com animais adestrados, ora aves vistosas, ora répteis rastejantes faziam da Corte um local diferente do cotidiano e aquilo sempre deixava o curral ensandecido!

No limiar das projeções daquela exótica Corte, aquela única onça permanecia no picadeiro real. Estava no meio dos outros animais, vivia de maneira curiosa, vestida de palhaça, sempre silenciosa, acuada, era vista ora com desprezo, ora com curiosidade pela fauna hegemônica dali. Nos dias do cume das farsas tradicionais, eis que ela, maltrapilha, de roupa colorida, maquiagem no rosto e com um chapéu pra lá de jocoso resolveu descer do palco e deixar que o imbróglio fosse protagonizado pelos verdadeiros astros, um espetáculo muito complexo, cômico e dramático ao mesmo tempo.

Sob o olhar surpreso das ovelhas, a onça caminhava observando o palco onde os nobre seres da Corte experimentavam seus papéis tão repetidos, mas que para aquele rebanho parecia tão novo. E era realmente curioso como avós, pais, filhos, netos e todas as outras gerações de répteis e aves se engalfinhavam sob as mais diferentes desculpas. “Reforma, contrarreforma, revolução”  de tudo já se havia feito uso, nada mudara, aliás, vez por outra se modificou os nomes (mas nunca os sobrenomes) das dinastias que sentavam na cadeira central. Naquela guerra de foice valia de tudo: Rasteiras, puxões de cabelo, fatos e boatos! Na revolução dos bichos do Reino das Onças Pretas mudar algo só se fosse para permanecer igual, esse era o lema.

Cansada da posição inerte, a onça juntou-se às ovelhas do curral e de lá observou as pérfidas querelas, o rastejar das convicções, os voos rasos dos sonhos egoístas. Constatou como todo o carnaval de disputa da Corte era um jogo falho para o reino e perspicaz para os reis, percebeu como o reino que levava seu nome nunca fora seu, primeiro porque sempre houveram mais ovelhas do que quaisquer outras espécies ali. Depois porque a sina predatória de quem estava naquela Corte transcendia a cadeia alimentar e asseverava o que havia de mais intenso no somatório das selvas e reinos maiores, pois as relações que ali se reproduziam já não tinham muito com o que se reivindicava natural.

A onça descobriu os motivos de como ela e suas irmãs foram vencida e como todo aquele rebanho nunca se rebelou. Nesse momento viu todo o seu corpo desbotar, suas garras caírem, suas presas encolherem, viu surgir uma pele clara, peluda, grossa e macia: A onça berrou! O berro que deixou todos ali assustados era a revelação de que aquelas onças do passado sempre foram na verdade lindas e dóceis ovelhas como outras quaisquer.

Era o momento do diagnóstico real de que nunca houve sequer uma concreta resistência ao espetáculo da Corte opressora que reproduzia sua lógica desde sempre. Era essa a essência daquele lugar: O Reino das Onças Pretas que nunca foi das onças, de onças que nunca foram o que acharam ser e de reis voadores e rastejantes que se perpetuaram ao longo do tempo por meio do riso raso e do choro largo, da ilusão daqueles que acreditaram ser possível reinar e prosperar na mentira e na dor. A onça, agora ovelha, lembrou de sua roupa de palhaça e, por um instante, esboçou um tímido e tenso sorriso para sua intuição, para a compreensão do papel crucial de sua história ali, até então vista como tragédia,  agora revelada como uma farsa vital para a capilarização dos contos e anedotas que fizeram do reino um lugar  magicamente pueril. 

Ainda assustada com sua percepção, percebeu também que aquelas aves e répteis misturavam irracionalidade selvagem com hipocrisia real para ludibriar as ovelhas em divisões inexistentes, vilipendiando as motivações daquele cotidiano tão pequeno em festas pobres, em rezas curtas e em esmolas poucas. Continuando a raciocinar, a antiga onça concluiu que se ela e suas antepassadas eram também ovelhas e as aves e répteis da Corte Real eram tão mais iguais que genuinamente divergentes, talvez pudessem todos ali serem, afinal, da mesma espécie.

Pensando que todas aquelas desigualdades ali presentes poderiam ter sido uma obra construída ao longo do tempo e, assim, com uma natureza perecível, percebeu que o Reino das Onças Pretas iria continuar sua sina até o dia em que as ovelhas também alcançassem o entendimento de que não mais poderia haver répteis, aves ou onças que pudessem dominar um rebanho que perde o medo de mudar, de tomar suas rédeas, de quebrá-las ao meio, de romper as cercas dos currais para demolir o circo falso e indigno das Cortes Reais e ainda poder não se contentar apenas com a transformação de um lugarejo, mas sim buscar a vivência na propagação profunda, para além das raízes das oiticicas, dos oitões das porteiras e das estradas de terras dali, transformando o riacho maldito em testemunha da luta, no relato vivo e sangrento de que boas ovelhas berram dissonantes e que o tempo de encantar-se com o reinado alheio havia de ser superado.

Enquanto constatava e sonhava, o seu vislumbre foi interrompido por um tumulto espetacular: um desfile barulhento e massivo. Carroças e carruagens em linhas paralelas riscavam o chão de todo o reino numa velocidade incrível, nelas, aves e répteis novamente insultavam-se mutuamente, enquanto as ovelhas vibravam extasiadas ao passo que faziam uma força descomunal puxando sem cessar os veículos dos seres nobres a fim de que cada espécie real pudesse vencer a tradicional corrida.

Fitando aquela cena, a antiga onça sabia que ainda haveria muito tempo para que suas constatações se ratificassem na massa daqueles currais. Ela bem sabia que até lá sangue, suor e lágrimas banhariam mais aquele chão do que as águas tão belas e já não mais raras ali, sabia que muitas corridas e carnavais seriam feitos com os mesmos vencedores e perdedores de sempre. Aves e répteis tão díspares, tão inimigas entre si, agradeciam abraçadas nos calabouços dos castelos ao perceberem tal prognóstico: O tempo de reinados rasos e rasteiros no Reino das Onças Pretas estava garantido entre guerras e festas por séculos e séculos.

A Corte dizia amém (e o curral também).



"céu para as aves, terra para os répteis e animação para os outros animais".

segunda-feira, 25 de março de 2013

Maturidade



É olhar no olho do abismo
Tremer, mas não sucumbir
É aprender com o trem da vida
Com o fim da linha
Com a linha do fim

segunda-feira, 18 de março de 2013

Pesadelo


As palavras como marcas
O silêncio como lágrima
E a dor como cor
Do Karma

terça-feira, 5 de março de 2013

Contemporâneo


Contemplo o templo do tempo
Essa poderosa parede agora em pó
Essa overdose de quadros e cores
Esse mural maravilhoso de sorrisos ditados
Só risos e só


Uno versos pra matar o tempo
Universo lento
Na palma de minha mão
Perto parto e tal sofrimento
Num universo de dor-ação

Uno versos em teimas e tentos
Tanto tato, como tão
Universo doando lamento
Poema pronto
Que

li
dão

sábado, 2 de março de 2013

Ostracismo Preventivo

O bichinho da vaidade estava lá e ainda mais cínico. No entanto, não foi por inveja, mas por medo ou por pura crueldade que tudo aconteceu.

Mergulhado no marasmo, o sujeito sabia que os seus Caetanos, Gils e as grandes gravadoras já estavam por aí exercendo seus papéis. Enquanto o tempo se arrastava, ele ainda aguardava com fé o aparecimento do David Bowie de seu Tom Zé.

Era justo esperar. Pois o maior problema dessa história não era o fato de que nenhuma das personagens tinham o talento e a genialidade de Caetano, Gil, Bowie e muito menos de Tom Zé. A analogia presente surgiu desprovida de qualquer tom pretensioso, ela apareceu  mais por resignação do que por resiliência, muito mais por esperança do que por certeza e essa questão se resolveria indubitavelmente com o recurso da proporcionalidade.

O problema maior é que o sujeito não conseguiu sequer ter o seu “Estudando o Samba”. Não se sabe se isso ocorreu por incompetência, distração ou coisa parecida ou se de fato a ordem dos fatores modificou o produto, visto que, nesse caso, o processo se deu a partir de algo novo, como muitas novidades antigas, muito mais cruel e eficaz: o ostracismo preventivo. As minas, alçapões e afins se espalharam como prevenção. Elas foram engenhosamente aplicadas mais nas potências que nos atos, armas silenciosas como antes, mordazes como antes, mas com muito mais precisão e intensidade... povo eficaz esse da contemporaneidade!

E quanto ele torcia, ciscava, sofria, cantava: “Ah! Se maldade vendesse na farmácia, que bela fortuna você faria com esta cobaia que eu sempre fui nas tuas mãos...

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Festa



Bebamos nesse beco sem saída
Matemos-nos nesse mato sem cachorro
Dancemos no baile dos delatores
Molhemo-nos nessa chuva de mordaça
Na tempestade do tempo
Na banheira da bobagem
Ou no mar do ostracismo
Do cotidiano caos

Que as lágrimas escorram sempre
Pelas barbas da barbárie
Para alegrar o poder
A arma das amarguras
A bala dos bajuladores
Com seus prefácios e preces
Com o seu morno mormaço
À mercê dos mercenários
Para quem somos moedas
Somos gozo e somos prato
No banquete bactério
Pois hoje é dia de festa

E tudo em mim é descrença
Na farra dos urubus

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Escravo




No pó da poesia fico
Quando atrevo, quando travo
Quando resto, quando rastro

Petrifico meu escrito
Ora em sorte, ora em Sartre
Ora em morte, ora em Marte
No só da poesia grito

No nó da poesia minto
Às vezes penso, às vezes passo
Quando não nesse, quando não nasço
No Jó da poesia cisco

No nó da poesia fito
De algumas gosto, de outras gasto
Algumas eu posto, tem outras que pasto
E piso o peso do meu peito vasto

De vez em quando escrevo
De quando em vez escravo

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Sentidos


Aquela vontade de mudar de rumo
De mudar o prumo
Sem saber aonde chegar

Aquela vontade, aquele desejo
O desassossego
Dos que ainda teimam sonhar

Aquela aquarela vibrando na tela
Fantasia bela
Beleza na mente
Imagem que a gente
Sente com o ouvido
Ouve no sentido
Sonha com o som

Tipo aquelas músicas
Que a gente escuta
Fica triste
E acha bom

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Pódio



O Cândido ódio
Do Cântico cálido
No Pálido pódio
O Código plástico

Por puro episódio
O cedro acrobático
Curvou-se aos goles
Nos pastos de certos
Tão Sumos proféticos
De Cismas punidas
E Pura cantigas
Que catam à polis
De Proles antigas
Que fodem e fodem
Em páreas fadigas
E em fúrias nutridas
Fuzilam e morrem

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Seca


Um pingo cai
Escorre
Molha timidamente
Mas a terra rachada não o reconhece
O mato moribundo não o reconhece
O ar abafado o despreza

Não há mormaço
Nem nuvens no céu
A água é salgada, pouca
E desce de um olho
Aguando a dor e o desespero
De ser tão
Sertão

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Poser


Poeta de pose
Poeta de pó
Poeta de doze
Poeta de dose
Poeta de dó

Uma-nota-só