terça-feira, 18 de junho de 2013

Quem tem medo dos Partidos? (ou as mentiras que nos contam por aí)



Não é sobre vinte centavos, não é sobre a Copa, não é sobre a corrupção. É muito mais que isso! De tantas cenas emocionantes, instigantes e de esperança que aparecem nesses últimos dias o contra-ataque que se arregimenta ante a força do povo nas ruas vem de diversas formas e muitas mentiras são ditas por aí.  Diante delas eu afirmo: o Brasil não acordou agora, Arnaldo Jabor não errou e se arrependeu e a polícia não é despreparada.

Primeiramente é preciso dizer que a alegria e euforia de hoje precisam ser canalizadas para os verdadeiros inimigos. O fortalecimento desses levantes é fruto de anos e anos de lutas em que movimentos sociais mais diversos, sindicatos e partidos verdadeiramente de esquerda vieram construindo sob a invisibilidade e a criminalização da mídia, do Estado e de muitos outros setores. Os movimentos feminista, negro, LGBT, das classes trabalhadoras, entre outros, com seus limites, desafios e problemas nunca dormiram. 

Enquanto Jabor titubeia num "eu errei" cínico e revelador de que a direita reacionária buscará se apropriar dos protestos também, a Folha de São Paulo se obriga a mostrar uma cobertura distinta da repressão que cobrou em seu editorial, logo depois de ter seus próprios funcionários como alvo do aparelho repressor que esse veículo tanto apoia. Não nos enganemos! A polícia não é despreparada, nunca foi. A polícia é preparada para aquilo. Ela é treinada para o não-diálogo, para a violência, para a repressão do povo trabalhador.

Diante dessa linda e diversa manifestação a mídia burguesa acabou tendo que mostrar o inevitável, aquilo que sempre acontece nos atos, que sempre acontece com os jovens negros na periferia, que sempre é inviabilizado e/ou manipulado por essa mídia hegemônica e conservadora. Hoje com uma notinha na rádio bandeirantes aqui, um comentário na ESPN acolá e muito conteúdo circulando na internet a verdade das ruas vai saltando devagarinho, respingando no monopólio que comanda os meios de produção, o Estado e meios de comunicação de massa. Não há projeto, direção, mas há fagulhas de rebeldia e insatisfação que se espalham a cada ato de repressão e isso já é motivo para o sinal amarelo dessa elite está ligado. 

Fiquemos atentos, pois o contra-ataque não será pequeno. Não caiamos nas armadilhas do sectarismo ou  do discurso pequeno burguês de apoliticismo, esse é o jogo do poder. Não temamos lutar, mas temamos que nossa luta seja reacionária. Disputemos os espaços, vamos refletir nossas ações e continuar ganhando essas ruas contra os governantes de todas as siglas que governam contra o povo trabalhador, mas centremos nossas forças também e principalmente naqueles a quem eles representam de fato. A negação e a crítica aos partidos de esquerda é um tiro no pé, é um erro de avaliação, uma mudança de foco que só desmobiliza, que só faz com que nos concentremos nos pormenores e não no sentido geral das mobilizações.

 Reinventar a política sim, negá-la jamais! Superar a discussão eleitoral e eleitoreira é urgente e isso se faz justamente qualificando os espaços, disputando pautas, bandeiras e concepções. É chegada a hora de centrar a luta contra aqueles que lucram com nosso sofrimento, com a exploração do trabalho, com as opressões mais diversas. É preciso negar sim, mas é preciso propor o novo, o diferente, o divergente, o projeto coletivo que seja profundo, coeso e que vá até a raiz de nossos problemas.

E por que os partidos combativos e movimentos sociais que estiveram aí se contrapondo e se organizando por tantos anos contra os desmandos da burguesia e seus representantes políticos, inclusive construindo, divulgando e militando nesses atos desde o início, quando as pessoas mesmo diziam que "não tinham acordado", porque eles agora não poderiam mais participar? De quem é o verdadeiro oportunismo se esses partidos não caíram de paraquedas nos atos? Há algo de muito estranho nessa onda "apartidária"/anti-parditária reforçada pela mídia.

O pior discurso é o discurso depois do conformismo, é o discurso fatalista, ele não tem proposta, nem se aprofunda na crítica, diz que tudo e todos são iguais e pronto, fim! Fim? Fujamos dessa armadilha! Não caiamos no jogo da direita, da Globo, da mídia como um todo. Eles sim querem desvirtuar, despolitizar. Ninguém precisa ser militante desses partidos, nem concordar integralmente com suas pautas a priori, mas rechaçar de forma indiscriminada é tudo que a classe hegemônica quer para se manter e utilizar do oportunismo populista para aprofundar seu projeto. Nenhum partido pode ir lá se aproveitar, tutelar ou manipular as lutas, mas ninguém pode sair indiscriminadamente violentando o direito dos manifestantes levarem suas convicções políticas para a luta se ela é coerente com o projeto de sua organização e se está de acordo com as pautas das manifestações.

A direita quer generalizar, colocar todo mundo no mesmo saco para fazer com que essas manifestações sejam meros episódios e não se transformem em algo duradouro! Deixemos os coletivos, organizações, entidades de luta, com suas divergências, projetos e métodos democraticamente participarem sim dos protestos, não neguemos o direito de diversamente nos unirmos. Se o medo é o do aparelhamento que o povo não deixe isso acontecer, mas saiba os motivos e os métodos para isso, pois os partidos de luta devem ou deveriam ser do e para o povo trabalhador e não somente o povo trabalhador ser dos partidos, é uma linha tênue, mas negar isso é muito mais perigoso, pois é a porta aberta para o fascismo, assim como na ditadura brasileira ou no nazismo o discurso também foi de supostamente negar a política. 

A direita e seus grupos tem medo de que a revolta se transforme em revolução. A direita vai à rua e à mídia elogiar os movimentos que antes criminalizavam. Ela fala em pessoas de branco, sem partido, buscando direitos, felizes, exercendo sua cidadania. A elite quer desmobilizar, caricaturar, disputar os rumos por dentro visto que não conseguiu com o microfone e o cassetete.

A direita tem medo de projeto, de direção e de organização. Ela tem medo da palavra radical e a coloca sempre de maneira enviesada. Ela quer carnavalizar as lutas, transformar em passeata pela "paz", pela "ética", "contra a corrupção" e outras coisas para que se acabem no nada. A direita quer inclusive fingir que não há direita nem esquerda. Ela quer fingir que não há diferenças partidárias, que não há ou não deve haver coletivos, apenas indivíduos insatisfeitos, espontâneos e só. O desafio agora é o aprofundamento dos levantes, a síntese da linda fagulha acesa, a formação e organização política para além do que é de hábito e aí a direita não vai mais dormir!

Quem tem medo de partidos radicais, emancipatórios, de luta é a elite, é a burguesia. Quem odeia trabalhadores organizados são aqueles que lucram com os baixos salários, com os altos preços, com a corrupção do Estado. Não é somente vinte centavos, nem sobre a copa, é sobre direitos dizem todos. O direito de protestar, o direito de acreditar na organização e na luta coletiva, o direito de acreditar na mudança e o direito de duvidar das mentiras que nos contam por aí, como aquelas que sempre espalharam de que brasileiros não protestavam, de que protesto era coisa de vagabundo e de que política é coisa de ladrão. Política é coisa nossa e é lá na rua que a gente vai mostrar isso!

Naquela esquina ali em frente se encontra essa interrogação da poesia: mudar de emprego ou mundo? Mudar o preço da passagem ou mundo? Mudemos tudo e não deixemos nos confundir com o discurso de "apoliticismo", "pacifismo", "eticismo" que estão querendo impor, pois a direita, a tv, os governos, a burguesia estão tremendo que a REVOLTA vire REVOLUÇÃO!
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Revolta!

Correram sem direção
Sem sangue nos olhos
Com pedras nas mãos:

“É tara! É tora! É tiro!”
Marcharam... murcharam!
Um belo suspiro
Durou um segundo
Pois não decidiram
Dilema profundo:
"Mudar de emprego
Ou mudar o mundo?



Wescley Pinheiro
Assistente Social, poeta, não filiado a nenhum partido.

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