quinta-feira, 27 de abril de 2017

Dissimulando

Emulou dissidência
Disse-me-disse
Beira a burrice
Na eloquência
Loucura e ação
Burra esmurra
Murmurou que não
Encena e ensina
Sina de cão
Cinismo insiste
Insinuação
Silenciou
Falou-e-disse

Disse
Mulas
São

quarta-feira, 26 de abril de 2017

Encolhendo

Colher
Acolher
Escolher
Onde não houve plantação
O que nunca foi nosso
O que não é opção

Pequeno drama de um sábado a noite no facebook

Vinte e seis de abril de dois mil e quatorze
Em Miracema do Tocantins
Está tendo um aniversário
É bem aqui do lado
Ouço música gospel em alto volume vindo de lá
O Além me persegue
Aí falta energia
Aí eu pego o celular e vou acender uma vela
Aí eu acendo a vela
Aí a energia volta,
O que eu sou sem meu deus?
Eu procuro o celular pela casa toda
Não sei onde o coloquei
Eu não preciso do celular, mas vai que precise!
Virou questão de honra achá-lo.
Procuro em vão, não faço ideia de onde está
E ele deve está no silencioso
A música do aniversário volta
Glória ao senhor!
É sábado a noite
Estou sozinho com a cachorra
E preciso estudar
Preciso muito
Eis o mistério da fé
Isso não é uma poesia.

XY

Sexo
Fixo
Nexo
Lixo
Nicho
Bicho
Léxico

Crucifixo
Complexo

terça-feira, 25 de abril de 2017

Compondo

Hãos e vias
Ais e ãos
Lenços e violas
Violência e gaiolas
Goela e violão

Sagrado

Pelo vinho
E pelo pão
Vê-lo pinho
Pelo vão

Farsa

A carne é fosca
O corno é fraco
A anca é fresca
O frasco é casco
Franco certame
Fino escárnio

Limbo

Entre o
Cult-bacanismo-
pós-moderno-diferentista,
o
Mais-raso-senso-comum-
reprodutor-do-status-quo,
a
Eloquência-vazia-
auto-afirmativa-
ensandecida-por-problematização,
o
silêncio-dos-inocentes-isentos-
cheios-de-boa-intenção
o
Militantismo-pseudo-ortodoxo-
cheio-de-razão
O choque
O achaque
O lacre
O like
A lacração




Sigo

Traço furos
Furo traços
Amando o presente
Odiando passados
O medo
O modo
O mundo
Marcado

Gosto

Em volta
Da vulva
Solto, salto
Língua lúmia
Corte, curva
Lambe lábios
Sobe sábios
Tantra, turva
Chama
Chuva
Em volta
Da vulva

segunda-feira, 24 de abril de 2017

Palmas

Hétero
Norma
Ativo


Cis
Tema
Pátria
Caos

Pau
Mais
Pau
Ao
Pau
Mas
Pau

Palmas
Más
Ao mal

domingo, 23 de abril de 2017

A artesã

Amarrou versos
Laceou estrofes
Costurou sentimentos
Enfeitou-se de lirismo

Amou o poeta
Vestiu-se de poesia

Cúmplice

Versão e contravenção
Pirando e respirando
Tornando e retornando
Sonho, seio, subversão
O porre, a pira e o pires
Que foge, que fogo, que finge
Na palma de minha mão

Regresso

O bando
Abandonou
A bandeira

Hasteia
Teu pano
De meia

Bandeia
Teu sono
Na teia

Ao meio
O mastro
Atoa

Atua
A banda
Que soa

E bane
O barulho
Da rua

sexta-feira, 21 de abril de 2017

Rafael Braga

Mais um
Menos um
Que tem cor
Que tem classe
Que não tem crime algum
Mas que tem prisão
Assim como tantos é
Tantos assim como são
Sobrou para os que sempre restam
Restou para os que sempre sobram
Menos ou mais como um ninguém
Mais-ou-menos como um nenhum
Mais um
Menos um

quarta-feira, 12 de abril de 2017

O galã

Cantando de galo
Cantadas e talos
Gola em V
Chinelos e calos
Textão e textículo
Viril, porém sensível
Amor? O líquido
Acumulação flexível

No palco, o tom professoral
Onipotente e sempre a mil
Orbitando seu próprio pau
Colecionando troféus
Na cama de um mausoléu
Diferentemente igual

domingo, 9 de abril de 2017

Distrações

Comparações
Composições
Competições
De passados
Sem sentido
E em vão

Redenção

Arredia
Arrodeou o dia
Adiantou a hora
Para deitar em meu peito
E então peitar a vida
Que agora amanhecida
Nunca mais seria a mesma

Onírico

E se teu pesadelo for prenúncio
De um desejo disfarçado de medo
Deste erro
Do desterro
De uma penitência onírica
De uma profecia maldita
Sustentada num cordão
De um escapulário
Imaginário
E pagão

Os números

Um a um
Foram sumindo
Dois ou três
Ainda davam notícias
E relembravam taciturnos
Quatro ou cinco causos de lá
Enquanto a lista daquela música
Não preenchia com tinta
Nem seis linhas do papel

quinta-feira, 6 de abril de 2017

O pedido

Dai-me teu segredo
Farei dele meu erro
Vou transformá-lo em pedra
E carregar em minhas costas

Dai-me tua dúvida
Farei dela meu espelho
Que quebrarei ao me olhar
E mastigarei os estilhaços de mim

Dai-me teu intenso passado
Farei dele meu relógio
Que trabalhará atrasado
Procurando o futuro
Onde não há

Sorte

No jogo de dardos
Sou o alvo
Esperando que tudo
Dê errado

quarta-feira, 5 de abril de 2017

Alucinação

Lebre nervosa
Delirío breve
Corre chorosa
Trocando gato
Por febre

Aparto

Os cadarços entrelaçados
Sujos, velhos e necessários
Envolveram aqueles pés
Mas não as suas pegadas
Pisadas em calo de sangue
Escondidas pelos solados
Que repletos de desenhos gastos
Guardavam formas geométricas
E conteúdos impublicáveis

Aperto

A lembrança do que não vi
A visão do que não aconteceu
O que aconteceu e eu não sei
O que eu sei e não queria saber
O que não queria saber e ainda lembro

Noite, trinta e um de dezembro

Coisas que eu nunca pude

Me gabar na juventude
Mandar ou receber um nude
Ficar sem rima amiúde
Ser colecionador de virtude
Livrar-me de ser um grude
Fugir da tal solitude
Ser um macho em amplitude
Ou humano que não se ilude
Beber água do açude
Vencer na bola de gude
Não ter uma cara rude

E sempre ao ouvir espirros
Conseguir não dizer: saúde

Poeira

Bagaço
Farelo
Tudo traço
No rastro do meu chinelo

Flagelo
Amasso
Nada zelo
Nas letras do meu cansaço

terça-feira, 4 de abril de 2017

Anti-musa

Rasgou o papel
Pulou fora do texto
Mas que ser história
Fez história

Componho

Com uma arma na mão
Mirando fantasmas enquanto corro
Atiro palavras no chão
Como num pedido de socorro

Se vira ato
Mato
Se vira poema
Morro

Maquiagem

Um idiota
Daqueles clássicos!
Passivo-agressivo
Dissimulado
Sem auto-estima
Viciado em autoflagelação

Esparadrapo na boca
Curativos no coração
Hora de ser duro
De fingir certeza
De atuar coragem
Hora da maquiagem
No idiota do espelho

Acidente

Coberta de costuras
A pele duvidava até da água
Que a acalentava sem cessar

As cicatrizes são máscaras
Das dores já falecidas
E dos cortes em potência
No jogo do imponderável

Fracasso

Quis os versos como quiseram
Para ser quadro
Para ser canto
Para ser cantada

Quis as estrofes como faziam
Para ser discurso
Concurso
Percurso

Quis seus poemas para o ego
Para o cego
Para o lego
Valores que não carrego

Mas só sabia ser fácil
frágil
Frígido
E foice

Mantra

Frágil
Quisera ágil
Agindo como
Roberto Baggio

Chutando pra fora
Na hora H

Dissonia

Num piscar de olhos
Os medos do passado e do futuro
Massageiam o peito
Exalando o aroma da angústia
Uma explosão de pesadelos
Sob o signo do sossego