quinta-feira, 29 de junho de 2017

Batendo ponto

Da cor de burro quando foge
Afogado pelo barulho
Pelo ditado errado
Pelo erro ditado
Pelos carros e pelo asfalto
Disfarço o desespero
Com essa minha cara de domingo à noite

Anamnese no bar da esquina

Paladar de guarda-chuva
Língua afiada
Calo na voz
Dor de cotovelo
Frio na barriga
Coração amargo

Não há remédio
Para o estrago

quinta-feira, 22 de junho de 2017

Contrassenso

Há quem prefira a pedra
Quem despreze a flor
E valorize o espinho
Há quem goste da gaiola
Mais que do passarinho

Há quem escreva poema
Para recitá-lo sozinho

Lente

Faço jus
Nada muda
Foco e fito

Olhos nus
Que desnudam
O espírito

sábado, 17 de junho de 2017

Ficcional

Pelas letras entrelaçadas
E os verbos conjugados
Pulsão lírica
Pressão cítrica
No terreno fértil
Da liberdade possível

Erótica

Os mares do não-dito
E a fúria de suas ondas
Rondam
A delicada pele
Os sedutores pelos
Os lábios e batom vermelho
E os corajosos pés descalços
Dançando por cima dos de Eros

Espionando pelo espelho
Apenas quero

Métrica

Peço
Na harmonia do poema que eu lanço
Meço

Danço
Na melodia do subtexto de seu verso
Manso

Absolvição

Dias escuros
Noites em claro
Tardes secas e quentes

Ora é
Ora essa
Que horas são?

Falava e relutava
Deixando-me em confusão


E nesse vai-não-vai
No morde-e-assopra
Na briga do medo com o desejo
Despidos de tudo
O fogo queimou qualquer culpa

Abracei-a
Libertamo-nos juntos
Para sempre juntos
Para nunca mais

Era domingo

Ela me falou de um bule vermelho
E do óculos de mergulho
E do desejo de trazer tudo em sua mala
Eu que há muito já havia abandonado a minha
Lia suas mensagens com a única certeza
De que já carregava a dela em mim

terça-feira, 13 de junho de 2017

Elis

Bem que me faz
Bem que te quis
Flores e paz
Versos e bis
Bem que me traz
Gosto de anis
Tons de lilás
Riscos de giz

Vem e me faz
Feliz

SP I

Um homem dorme
Sob o sol
Uma mulher grita
Para vender
Uma garota sorri
Para o colega
O motorista canta
Do lado de lá do parabrisa
Rente ao poste
O pedestre atropela
O pé do porteiro
O tempo corre por baixo
Do verde da cidade cinza
Na esquina mais famosa do Brasil
Dois jovens aparecem
E o concreto testemunha
Um beijo de saudação
Enquanto tudo isso acontece
Eu observo e penso
Oh vontade de cagar

SP II

Massagem no ego
Um boquete com dentes
Omelete de almas
Um chute nos ovos
São Paulo
Não é
Meu país

SP III

Essa cidade
Não é meu país
Mas meu país
Está por toda cidade
E para isso
Esse infinito
É pequeno
Demais

SP IV

Mano
Mona
Mina
Mono
Minha
Nano
Nona
Nina
Nono
Ninha(ria)
Pano ponho
Sono, sonho
Sina(zinha)
Anda sozinha

quinta-feira, 1 de junho de 2017

Fases

Se conheceram na crescente
O beijo, na lua cheia
Se casaram na minguante
E separaram quando nova
Lua de mel
Uma ova

Sala de Jantar

De esgoto é o perfume
Que entra pelas narinas
Intervalo
Comercial de margarina

Um suco gástrico na taça
Um gole, um tapa, um mapa
Um brinde de pontas de facas
Uma colherada de estrume
Pintem as paredes de cinza
Apaguem certezas, cigarros
Vagabundos, vaga-lumes

Sabor ranzinza
Doce de barro
Ode aos bons costumes