segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Universidade

Na fábrica de trabalhadores
Não mais apaga dores
Não mais quadros e cores
Só moedores de humanos

Tem espremedor de anos
Tem um ralador de sonhos
Tem fermento de intempéries
Tem forno, lenha e esteira
Para produzir em série

Tem tempero de arrogância
Tem corantes de ganância
No discurso do produto
E na ferramenta do mestre
Tem doença e tem cobrança
Tem tremores e tributos
Carne fresca de doutores
Tem de tudo e tem de nada
Tem de pasto e tem de peste
Na sala dos roedores

Entra semestre e sai semestre
A fábrica trabalha dores

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Canteiro

Sempre há poesia
Nos peões do tabuleiro
Nos restos de uma janta
Nas dores de nossas juntas
Na sombra do pé-de-planta
Na lombra do pó da puta
Na obra e pá do pedreiro

Sempre há poesia
Dores, amores
Cantos, canteiros


Diário

Era eu o insone em meio a vibração do dia
O cansaço anunciado desde a madrugada
A fome que devorava tudo ao meio-dia
A angustia de uma tarde e seus tristonhos nadas

Era eu os minutos de desejo
Quando lembrei os versos da poetisa
No meio do congestionamento já tão esperado

Era eu o desespero e o mais sertanejo
Esperando em vão por uma brisa
Na noite seca e tediosa em meio ao cerrado