sábado, 26 de setembro de 2009

Cordel sobre a descriminalização do Aborto

Vim aqui pra falar para você

De um tema polêmico e complicado

Quase sempre ele é discriminado

Sem ao menos o povo compreender

Discussão pouca gente quer fazer

O assunto já causa desconforto

E mote que trago é o aborto

Tô falando da legalização

Começando minha'rgumentação

Com meu verso sagaz e meio torto


É preciso acabar com preconceito

E tratar desse tema amiúde

O aborto é um caso de saúde

Precisamos tratá-lo desse jeito

Com a mulher é preciso ter respeito

É preciso acabar com sofrimento

Dá um não nesta vida de lamento

Amargura virou o seu destino

De tentar um aborto clandestino

E morrer mutilada e sem alento


Nesse jogo entrará muitas questões

Opressão e dor no patriarcado

Subjuga a mulher, deixa de lado

Em quase todas as ocasiões

E encaram o assunto com sermões

Apelando para o tal moralismo

Espalhando um monte de achismo

Frente à luta legítima da mulher

Por um mundo diferente do que é

Acabando a ditadura do machismo


Outro tema que entra nesse fato

É a historia da tal da religião

Que quer vir com sua crença de antemão

Impedindo um verdadeiro Estado Laico

Mas nessa historia eu vou não pagar o pato

Pois não creio em verdade absoluta

Tô aqui sempre pronto pra disputa

Se sua crença é ser contra o aborto

Eu respeito, mas respeite meu conforto

De viver como quer minha conduta


Você pode ser contra o abortar

Pode achar desumano ou imoral

Mas a sua opinião é pessoal

Não é causa de criminalizar

A pessoa também pode discordar

A mulher tem o corpo soberano

E se lasque quem achar que é profano

Dar um rumo para o seu próprio corpo

É direito que só tira quando morto

Liberdade de qualquer ser humano


Me admira esse tal raciocinar

De julgar a mulher pelo aborto

Logo ela que é dona do seu corpo

Tem direito de escolher o que achar

Crime é coagir, mentir, forçar

Só porque teve o óvulo fecundo

Obrigar a botar filho nesse mundo

E depois não ter como sustentar

Sem nenhuma ajuda pra criar

E cair em um poço sem ter fundo


A mulher com um feto na barriga

Quem seria você para julga/r

O que é certo e o que é errar

Com a sua concepção de vida

Digo isso porque há quem decida

O que é certo e errado a se fazer

Como se você pudesse dizer

Como lidar com problemas tão alheios

Só olhando de galope, à passeio

Sem saber o que o outro vai viver


Para alguns a vida está presente

No momento da fecundação

Para outros é durante a gestação

Que o embrião começa a virar gente

Há também os que pensam independente

Dizem há vida só com autonomia

Não é só questão de biologia

Tem também o aspecto social

Para mim tudo isso é normal

Cada qual com a sua ideologia


O que lasca é querer uma dessas

Seja a concepção a comandar

E depois todas as outras a ditar

Como errada e aquela que não presta

Uma questão complicada como esta

Necessita da maior democracia

Respeitando toda a autonomia

E desejo subjetivo de quem quer

Escolher se é certo ou se não é

Sem crime, coerção e apologia


Pois eu digo com toda sinceridade

Que o ato de descriminalizar

Não obriga ninguém a abortar

Mas garante legitimidade

Para quem pensar na possibilidade

Ter o acompanhamento adequado

Ter seu bem-estar assegurado

Tanto físico quanto o bem- estar mental

Escolher o aborto opcional

Sendo um novo direito conquistado


Me preocupa a mulher trabalhadora

Que não tem acesso a quase nada

E acaba sempre sendo açoitada

Pela vida como uma sofredora

Como é que se taxa de agressora

Alguém que só apanhou da vida

E que sempre foi uma esquecida

Pelo Estado e políticas sociais

Sem direito a um pouco de paz

Vivendo coisas que até deus duvida


Os que dizem “mas não soube fazer?

Que assuma a responsabilidade!”

Essa fala contém muita maldade

De quem nunca consegue perceber

Não consegue ou talvez não queira ver

Como é a dura a vida dessa gente

A maioria do povo é tão carente

Como é que se cobra desse jeito

Alguém que nunca soube o que é direito

O que é Estado porque sempre esteve ausente


Colocando a culpa no indivíduo

Por questão que é bem mais geral

É herança, é ranço cultural

De política que ninguém é assíduo

Uso de método contraceptivos

E o famoso plano que é familiar

Nada disso é visto pois não há

Sendo assim eu não culpo a mulher pobre

E desse jeito a gente que descobre

Que o problema não é o abortar


Vejam só como é pedir demais

Num país que não dá educação

Onde falta a roupa, o leite, o pão

Falta a água, energia e o gás

Tratam gente pior que os animais

E fazem da mulher uma criminosa

Tudo isso esconde a arenosa

Existência submissa da mulher

Que luta por direito porque quer

Uma vida bem menos desonrosa


A mulher hoje é protagonista

Dessa luta e caminha com louvor

É guerreira e batalha com ardor

Contra o mundo patriarcalista

E a luta pra chegar nessa conquista

É fruto de muita organização

Com coragem e determinação

Pra enfrentar todos esses desafios

É por isso que apoio e anuncio

Essa luta pela legalização


Eu defendo descriminalização

Batalhando pela nossa igualdade

E buscando a sonhada liberdade

Como quem rima de improvisação

Terminando o verso nunca em vão

Procurando outra sociabilidade

Com a garra e a veracidade

Onde central seja só o que é humano

Sem opressão de fulano ou de ciclano

Pelo bem da coletividade
Wescley Pinheiro - 26/09/09

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