quarta-feira, 31 de maio de 2017

Indigesto

Enquanto mastigam os fígados
Cospem esquemas
E engolem as tréguas
Vou vomitando poemas
Em quem caga as regras

terça-feira, 30 de maio de 2017

Unção

Um faleceu
Passou-se um mês
E ninguém notou
Posto que era obsoleto

Outro faleceu
Passou-se um mês
E ninguém notou
Posto que era imortal

quinta-feira, 25 de maio de 2017

Novela

Um verso lento
Vai oposto
Violento
Opulento
Fala aposto
Falocêntrico

Sobe os créditos
Sob os aplausos
Sobre a história
Mal contada

quarta-feira, 24 de maio de 2017

Repressão

Não falha e nem tarda
Servir e proteger? 
Conto de farda 

domingo, 21 de maio de 2017

Surto

Fora de si
Dentro das dores do mundo
Inteiro 

quarta-feira, 17 de maio de 2017

Qualis A

Meu relatório tem papers
Onde canta o Qualis A
O cão que aqui me lattes
Vê caravana passar

Preparo com precisão
A coisa pra publicar
Tô cansado de ouvir não
Eu tenho que já ser tão
Eu venho da revisão
E posso lhe agradar

Vou-me embora pra Pesquisa
Lá vou babar a Rainha
Com a coleta da pós
Ranqueada e bem sozinha

Seu dotô me dê licença
Pra minha história contar
Sou bolsista de programa
Meu prazo vai estourar

Ê laiá
Estudar
Ê Capestrela!
Vou artigar!

segunda-feira, 15 de maio de 2017

Jaguaretama

Enquanto chamas
Chama chuva
Ama lama
Lava luva
Geme e gama
Louva e teme
Toma e clama

domingo, 14 de maio de 2017

Na cidade grande

"Lá no meu interior"
É se assim que nos referimos
A nossa cidade natal
Quando contamos uma história

Talvez seja porque
Ainda que minúscula
E muito distante
Ela continua viva e próxima
Dentro da gente

sábado, 13 de maio de 2017

Nordestinense

Onde já se viu
Assinar poesia com Wescley
Tendo um Paulo
Maia Pinheiro
Para assim o fazer
Pense num cabra
Astucioso
Que nome mais horroroso!

É W, é Y,
É puro vira-latismo?
É capacho e despacho
Do imperialismo?
É letra pra todo lado
É coisa de sertanejo ignorante
E ignorado?
Wescley, poeta?
Mas essa hora?
Mas ora essa!

A arte é uma coisa nobre
Poesia se faz com classe
Não suporta nome de pobre
Que nome mais indiscreto
Wescley, cearense?
Tem segundo grau completo?

Tem,
Mas poderia não ter
És porteiro?
Não,
Mas poderia ser

Como tantos outros
Nordestinamente
Sobrevivendo
Carregando nas costas
E no sotaque
As estrofes e as catástrofes
Da língua portuguesa
E da íngua geográfica
Luso-brasileira

Com W, com Y
Ultrajando com o árido verso
O poema límpido
Do mapa do Brasil
Rompendo cercas
Desafiando a seca
Patativamente
Vaiando o sol
Amolecando-se
Ataiando as dores
Mangando dos opressores

Sou W e Y
Sou mar e rio
Reza e cachaça
Mandacaru e jangada
Misturo nome de pai e mãe
Serra e sertão
Sanfona e alfaia
Mato minha sede
De sangue, suor e água

Não faço piada
Eu faço rir
Não derramo lágrimas
Eu faço rima

Poesia se faz com a Classe
Paulo Pinheiro, para quê?
Se mais que poeta nordestino
Quero ser nordestino-poeta
Como tantos outros
Que faz arte com a vida
E da vida a arte
De resistir

Wescley.

quarta-feira, 10 de maio de 2017

Partida

Se na luta de classes não há empate
Jogar no campo adversário
E com as regras do inimigo
É mais que correr perigo
É sempre perder o combate

Desde o grito da claque
No jogo dos explorados
Mais que virada de mesa
A melhor defesa
É o ataque

terça-feira, 9 de maio de 2017

Maré

A lua
E o espírito aluado
O mar
E os olhos marejados
A areia
E o corpo areado

Na cabeça do sertanejo
É maré pra todo lado

A Sombra

Acolhida
Aceitada
Açoita
Acertadamente
Orquestrada

Obsessiva
Obcecada
Observa
Obtusamente
Assombrada

Amargura

É amargo
O tempero do tempo
Vai polvilhando mensagens
Ligações e encontros
Desbotando amizades
E apagando lembranças

Os novos sabores são ralos
No tempo de trabalho
O gosto do abraço
É temporário
O programa de fim de tarde
É solitário
E o encontro prosaico
Quase protocolar
A data comemorativa
A hora marcada de confraternizar

O condimento dos meses
E anos e décadas
Transformam convites
Em informes
Planos em desistências
Desejos em condescendência
E a pretensão despretensiosa de ágape
Uma refeição qualquer

É amargo
O tempero do tempo
Para a vida adulta
Resta o franzir da testa
E engolir em seco
Chamam isso de amadurecimento
Eu chamo de apodrecer

Lábios

Recito versos
Em teu corpo
Cada estrofe
Um suspiro
Cada tiro
Um que susta
Tara, tiro, miro
Casto
Costa
Casta
Custa

Exaustão

É oficial, estou cansado
Passou da hora de cortar
Um dobrado
Um chopp em dobro
Seu garçom, eu lhe pago!
Quero deitar e sossegar
Meu riscado
Meu verso arisco
Que corre o risco
Colado
De colorido passou a ser
Desbotado
Então botei
Minha viola no saco
Sacolejei meu coração
Malfadado
E não compus a aquele meu
Triste fado
Me enfadei
No feno e fui
Bem ferrado
Cantar bem longe
Desse canto e do fardo
Decantado

quarta-feira, 3 de maio de 2017

No quarto escuro

Tempo torto
Quase espumo
Espero
Espasmo
Afoito
Paro
Prumo

Coito
Canto
Cato
Janto
Acato
Jeito
Leito
Canso
Jato


Interno

Acamado
Comido
Ido
Doído
Doado

Doido
Acalmado
Alma e cal
Mal armado

segunda-feira, 1 de maio de 2017

Vingança

Sumo e fato
Fica e fura
Soma e fome
Seja qual temperatura
Para o ato
E para o homem
A vingança é um prato
Que se come