quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Alvo

A culatra é a porteira
Da arma da minha vida
Satisfeita e generosa
A culatra é atrevida
A cada verso que atiro
Sai por ela e onde miro
É poesia vencida

Devaneio

Poemeto de pormenores
Sem pressa e sem pressão
Sem atraso e sem tração
Decantado e declamado
De um jeito que eu não sei

Os cordelírios
Não nascem em delay

Leve

De um jeito leve e fagueiro
Na pluma do travesseiro
Flutua e só responde
O que vale a pena saber

Vivendo sem saber onde
Quem não tem nada a esconder
Nada esconde

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Ponteiro

Tem hora
Que cada minuto
Demora
Devora
O indulto
A essência

Poucas palavras
Muitas ausências

domingo, 16 de outubro de 2016

Questão de ordem

A nota de repúdio
Contra a moção de apoio
À carta de desagravo
Ao papel em branco

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Sinais

Em meio aos gritos
Mirando todos os lados
Não enxergou o óbvio
Por ficar perto demais
O destino  parecia apontar à guerra
Mas ele andava distraído
Dava passos para o amor

No campo de batalha
A seta já cansada
Disfarçou-se de flecha
Para acertar o caminho

domingo, 2 de outubro de 2016

Afasia

A presença do nada
A brisa desmotivada
Uma dose dos bons
Um sossego sem paz

Aparta-se dos sons
Onde menos é mas

Ruminando

Gostava de comer nesses lugares onde se faz o prato, pesa e paga logo de uma vez. A sensação de comer algo para pagar depois era um daqueles pânicos triviais, parecia que se alimentava do que ainda não era seu, que seu cartão não passaria, que o dinheiro desapareceria da carteira, que ele havia se enganado de preço.

Sua indigestão era temperada por notas de capital e gotas de psicose.

sábado, 1 de outubro de 2016

Conjuntura

Sobremesa de vísceras
Chicletes de cacos de vidro
Tingidos de vermelho-gengiva
Deram gosto à plateia
Que suculenta assistia
O espetáculo das sombras
Verossímil, mas não real