quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Uno

No ataque de pânico do silêncio
No arsenal agoniante da verborragia
Na invisibilidade covarde da timidez
Na desinibição acrítica da vaidade
Demasiadamente humano
Irremediavelmente insuportável
O indivíduo é
Antes de tudo um chato

Reflexo

Não sou do que visto
Do que estou
Do que bebo e como

Não sou do que vivo
Do que vou
Do que levo e sumo

Sou do que esqueço
Do que tropeço
E não mereço

Sou do que fica
Quando me despeço
Do avesso

Panorâmica

Take 1, plano aberto
Luz (do sol), câmera (de deus) e ação (humana)

Fim da bebedeira profana
Seis horas da manhã, é sexta, é treze, é maio
Lá vem os primeiros raios

A supersticiosa cruza a encruzilhada
(Nada de passar por baixo da escada)
Na outra quadra passa a procissão
A virgem,  santa desde cedo
Caminha e não revela seu segredo

O sol esquentando qualquer medo
E o padeiro com a fé e o fermento
Alimenta os outros para o seu sustento

Entre pães, preces e superstições
Na esquina da padaria, ao lado da capela
Dois amantes se aliam e se revelam,
Na despedida do começo, na fome que alimenta
Num beijo quente e roubado que fermenta
Crenças, cruzadas, corações

E corta! (dores, pudores,
atores, proporções)

Folhas

Outono outubro
Ou torna ou turno
Outorga o sonhar
O trevo de quatro
Tratou de travar
Com tanto contrato
As folhas falharam
Na sorte e no azar

Na roda de surdos
No nada e no tudo
Tolice é cantar

Para si

Se pá
Se para
Separa

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Tarde quente

Um gole de tereré
Um galo da madrugada
A gula numa garfada
O grilo no rodapé
A gola da camiseta
A gala sem etiqueta
O gelo nesse café

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Mal do século II

Maldição de poeta
É tragar Bukowski
E pegar-se Byron
Como um Lord sem título
Por vezes um mero brega
Embregaando as palavras
Etilificando os fonemas
Para dizer que a noite
Quando bebida sozinha
É poesia vazia
É engolir as beiradas
De uma alma que sabe
Que o meu canto é no centro
No epicentro de ti

Notas

No solo saindo do ser
Na sala solando com o sol
Num selo ensaiando o solar

Não tinha nada a perder
Mas tinha tudo a ganhar

Profanando

isso de não saber ser
exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar aquém

sábado, 3 de setembro de 2016

Flutuando

Corações candentes
Estrelas cadentes
Beijos de aguardente

Amamos
Inflamos
Inflamamos