Escrever deveria ser admirável. Não essa admiração de fora para dentro tão propagada no mercado das sensações. Falo da admiração de dentro para fora, refiro-me à satisfação por si só, ao deleite incidente.
Não, escrever não é sexo, é parto. Não é prazer, é sacrifício. É a incongruência de nossas almas atormentadas sendo postas à prova, nos obrigando a pensar e expulsar quaisquer coisas que sejam da gente. É a prova da racionalidade e da possibilidade de transformação ao colocar em um papel aquilo que só existia em nós. Vejam que metafísico!
Gozo e depressão, tragédia e farsa, parto. Escrever deveria ser admirável, deveria ser sublime, mas ao colidirmos com nossos relatos e nos deparamos com a obviedade de nossa produção, com o difícil e doloroso percurso da légua tirana da mente até a ponta do lápis, percebemos que o que está escrito não é digno de todo esse ritual, de que o espírito é mais prolixo que nossas mãos.
Não temos técnica, mas isso é o menor dos problemas. Assustamo-nos mesmo quando nos descobrimos com a incapacidade adquirida na dureza do cotidiano. Ficamos putos ao sermos incompetentes na missão de transformar as emoções em palavras, pois petrificamos os nossos peitos, quantificamos todas as sensações e sentimentos e somos inaptos a fazermos o caminho inverso.
Escrever é fado, é peso, é parto. Pior, apesar disso é impreciso, inevitável, necessário. No mundo imagético, rápido, fugaz, fluido, escrever é aquela moda que não tem mais valor de troca, é o exercício mais temido da obesidade mórbida cerebral. É a atividade mais próxima de nós mesmos, por isso desejamos rechaçá-la.
Transcrevemos relatórios, artigos, resenhas, receitas, mas não somos capazes de inventar. Ficamos pasmados ao conjecturarmos a possibilidade de mente e coração se acharem no papel, duas linhas paralelas se encontrando no infinito.
Escrever é criação, transformação, desprendimento, parto.
Escrever dói.
Wescley Pinheiro.