Escondo-me do medo
Do supersticioso receio do profeta
Daquela ponta do lápis certeira e reta
Que me faz correr e percorrer o enredo
Que me bota frente a frente com o destino
Que revela o pavor de um menino
No escuro que revive o seu temor
Na sua mente que fermenta esse topor
Onde corro e me escondo desse medo
No espelho corro, socorro e vejo
Fujo de mim logo cedo
1. Uma gaveta pública cheia de rascunhos. 2. fi.a.po sm (de fio) 1 Fio tênue. 2 pop Quantidade ou porção insignificante... 3."O coletivo de um homem só, falando do nada e pra ninguém..."
quinta-feira, 29 de janeiro de 2015
terça-feira, 25 de novembro de 2014
"Põe a culpa na Abreu, antes ela do que eu"
Dias 25 de novembro. Fim do mês, faltando trinta dias para o natal do ano 2014. Que fique registrada a data que escrevi.
E estou dizendo isso pois sei que a celeuma da emblemática indicação da nefasta Kátia Abreu para compor o grupo dos ministros do próximo governo Dilma ainda vai gerar outro viés no futuro, algo com um teor bem diferente do que agora paira no ar como silêncio envergonhado (condescendente) dos governistas e do voto rebaixado. Estou falando da estratégia do bode na sala.
Todo mundo deve conhecer essa história: O apartamento é minúsculo, a família passa o dia reclamando de falta de espaço, então o pai vai lá e coloca um bode na sala amarrado no sofá. Dias depois o caos está instalado: barulho, mau cheiro, fezes. Todos se revoltam com a presença do bode, há um completo desespero. Após muitos protestos, o engenhoso pai resolve aceitar as reivindicações, retira o bode da sala e todo mundo fica feliz, esquecendo o quão era ruim viver no pequeno apartamento.
Vejo com muita curiosidade a surpresa das pessoas com a indicação da Kátia Abreu. Não estou contando com os iludidos, mas com os soldados da retórica, para esses o problema maior não é o rumo das coisas, mas o nome da vez ser conhecido e reconhecido. A centralidade da questão para esse povo é o quão é simbólica a indicação de Abreu e não a política alinhada que já vem sendo aprofundada por anos e anos contra o povo do campo em favor do lucro desmedido, do desmatamento, da superexploração do trabalho.
A indicação de Kátia é de fato um problema, mas apenas a ponta dele. Na verdade, pouco importaria se fosse fulano ou sicrano do segundo escalão do agronegócio, pouco importa se serão os jagunços ou os senhores da casa grande que colocarão a mão na massa, quem vem mandando e vai continuar fazendo isso serão os patrões. E nada na última eleição sugeriu que seria diferente. Nada mesmo. E não adianta colocar de modo fatalista a culpa na forma política atual como se não existissem opções de organização, luta, cobrança e pressão ante os interesses de classe que esse e todas as outras indicações ministeriais representam. Não adiante perpetuar o reformismo, naturalizando o possibilismo, o aliancismo e o proselitismo que se reproduz por aqui com o modus operanti do governo de "colisão".
Dito isso, afirmo que no dia que dona Kátia e demais nomes nefastos deixarem os ministérios por qualquer razão, não me venham comemorar a saída do bode da sala, assim como fazem quando meia dúzia de militantes conseguem vaiar a rede globo ao vivo ou quando a presidenta da república dança funk ou diz duas ou três palavras mais bonitinhas e se encontra com algum grupo de movimentos ligados ao seu partido. Antes e depois de Kátia ainda virá mais gente do latifúndio, do capital financeiro, do desmatamento e demais donos do poder de outras áreas. E isso não ocorrerá porque é necessário ou imutável, mas porque é a linha desse governo.
A data da profecia do bode está aqui registrada. Dessa forma, quando os "movimentos de pautas ganhas", daqui a alguns meses, saírem da caverna e bradar o "avanço popular", dizendo que terá uma guinada para a esquerda por conta das danças das cadeiras dentro dos carguinhos do governo, nós já saberemos que é só mais uma farsa entre bodes nas salas do planalto e donas e donos de grandes currais. E uma hora essa desculpa não vai colar.
O muda mais de Dilma será o que já vem sendo: a continuação da mudança via e rumo ao conservadorismo. A mea culpa no rebaixamento das expectativas da população, de uma década de vazio em formação política e de mero proselitismo vil na cooptação e bravatas perenes fica só na potência, nunca em ato. A turminha continua e continuará utilizando do "medo do passado" e se tornando cada vez mais parecido com ele. A chamada onda conservadora não acontece só do outro lado da cerca da falsa polarização de nossa política formal, ocorre por dentro do governo, desse governo que dia desses fingiram ser progressista.
Como disse a presidenta para sua militância: menas, gente, menas.
segunda-feira, 10 de novembro de 2014
Diário de supermercado 2: Laticínio ostentação
Adoro queijo. Difícil é ter que decidir entre pagar a conta de luz ou comer
alguns pedacinhos durante a semana. No velho-oeste queijo deve ser coisa rara.
Não importam as centenas de milhares de cabeça de gado que existam por aqui e
suas dezenas de bilhares de litros de leite: comer queijo é sinal de status. A
sociedade se divide entre os poucos que tomam seu café e podem luxar sua fatia
de cheddar no pão e aqueles da absoluta maioria que sonham com tal regalia.
Esse abismo do consumo é cada vez maior.
Chego ao supermercado e salto ao constatar
o preço novamente. Eu até já saiba, mas me chocarei sempre. Fico ali
encarando a variedade do alimento branco-amarelado, gorduroso e bonito, imagino
ele derretendo em meu grill, numa pizza ou ainda numa lasanha... Olho no olho
dos cifrões, calculo a perversa equivalência entre o valor daqueles gramas
fatiados e um quilo, recordo os saborosos, baratos e caseiros laticínios lá do
Vale jaguaribano, trinco os dentes e... é hora do choque de realidade! Vamos lá, é preciso ser pragmático. Paro e já penso qual o dia do mês será o dia da
mozzarella e qual o do queijo coalho, momentos especiais, nos outros dias uma
colher de requeijão (no máximo).
Tempos difíceis onde o misto quente é uma
iguaria vendida a peso de ouro. Hoje mesmo que acordei inconsequente, fui à
padaria e comi um. Ostentação total no melhor estilo classe média assalariada.
Saí de lá com a barriga cheia (nem tanto), o bolso vazio e a consciência
pesada. Quem pode, pode, pelo menos por enquanto. Se continuar aumentando terei
que vender meu rim pra comer uns pãezinhos de queijo da próxima vez.
domingo, 9 de novembro de 2014
1989
Quando a poeira subiu
E os tijolos foram ao chão
Foi então decretado o fim da contradição
Mal sabiam
Caia o muro
A história, não
E os tijolos foram ao chão
Foi então decretado o fim da contradição
Mal sabiam
Caia o muro
A história, não
Diário de supermercado 1: Comprando superpoderes
Percebendo minha inaptidão em manter regularmente uma vida não sedentária, tenho tentado praticar ao menos a redução de danos e modificar boa parte dos alimentos cotidianos. Esse não é um processo fácil e analisando os seus elementos percebo que essa parte do supermercado já me atingia sem eu sequer nota-la, tudo dependendo da flutuação da moeda-dieta.
A indústria da boa forma é interessante, num dia chá verde cura tudo, no outro esquecem o chá e falam que é a linhaça, depois tudo vem com colágeno, para logo em seguida encontrarem um grão milagroso. É uma linha difícil de acompanhar a moda. Enfim, uma bolsa de valores onde a especulação entre o glúten, a lactose, as fibras e o chá dentox disputam o nervosismo do mercado.
Nesse emaranhado de possibilidades vamos escolhendo: granola, bom, mas calórico; aveia, ótimo, mas tem glúten, que agora é ruim para todo mundo; iogurte desnatado; melhor, mas lactose agora incha. Tudo bem, sabemos as regras do jogo, o duro é quando a moda do carboidrato de baixo índice glicêmico atinge o seu cotidiano. Quando era só a batata-doce, tudo bem, mas agora a moda é a tapioca! Que desgraça, roubaram a tapioca da minha alimentação barata e não saudável. Comprar fécula de mandioca virou fit. Maldição, meus amigos, maldição.
Aliás, fécula de mandioca não! Goma, go-ma! Comida de cearense, comida diária, goma que você molha e peneira em casa e não essa coisa caríssima que já vem molhada, ensacada e que sequer fica resfriada nas prateleiras, quando você abre o pacote fica com um “cheiro de abafado e o calor já faz a coisa toda virar grude. Pois é, a tapioca subiu de status. Pior, o cuscuz também! Nada de tapioca com calabresa e bacon, carne seca com banana. Nada de uma farofa de cuscuz com ovos e muita manteiga. Agora tapioca é almoço, é cara e é servida com coisas verdes, sua farinha de milho, idem. Perdeu, playboy.
Mas ok, vamos lá continuar na prateleira. Vamos olhando, analisando, comprando, se alimentando e se lamentando até que chegamos nela, a rainha do momento, aquela que um saquinho minúsculo que deve conter uns trezentos gramas custa mais ou menos quinze reais. Imagino o que isso queira dizer: "compre essa farinha, fique sem dinheiro e emagreça por não ter como comprar outros alimentos". Não sei, provavelmente estou sendo jocoso e simplista demais, mas preciso deixar meu recado para essa estrela:
Querida Quinoa, não nos conhecemos pessoalmente, você para mim é igual caviar na música do Zeca Pagodinho, não sei suas propriedades, acho que continuarei sem saber, permanecerei apenas me relacionando com suas vizinhas linhaça e aveia, mas pelo seu preço, imagino que alguns grãos deem o poder da imortalidade, você deve ser realmente muito especial. Parabéns pelo valor e curta o tempo de fama, ele é efêmero, pois quando enquanto eu estava na fila do caixa vi uma capa dessas revistas femininas que dizia: “a nova erva, o chá de matcha acelera a queima de gordura em 40%”. Tremei, quinoa, tremei, quando sucumbir, por favor, leve minha goma junto. Oh vontade de comer uma tapioca!
terça-feira, 4 de novembro de 2014
Não alimente o lobo
Diante das esparrelas neoconservadoras muito tem sido comentado sobre o protagonismo das (sub)celebridades como intelectuais orgânicos do irracionalismo. Nesse processo, a "rebeldia sem causa" de alguns roqueiros dos anos 80 é encarada com perplexidade e os contra-argumentos são postos com análises de mera ausência de inteligência. Não é isso.
Dizer, por exemplo, que Lobão é burro não correto. Ele é inteligente, criativo, talentoso. Talento não escolhe caráter, competência não brota por adesão política. A questão atual é outra.
Dizer, por exemplo, que Lobão é burro não correto. Ele é inteligente, criativo, talentoso. Talento não escolhe caráter, competência não brota por adesão política. A questão atual é outra.
Lobão já fez muita música boa, já proferiu palestras interessantíssimas nos anos noventa, já bradou muito pertinentemente sobre coisas diversas. Bradar, gritar, uivar virou o alimento dele e é aí que se encontra a questão. Para Lobão uivar é o que importa. Por trás de boas letras agressivas, um niilismo vulgar, um anarquismo vulgar, uma rebeldia desmedida e sem direção, há uma persona construída que sempre quis questionar supostos deuses... Por isso uivava ferozmente contra a bossa nova, João Gilberto, Caetano, o mainstream, etc. Por isso saltava de boas sacadas até frases debochadas, infelizes e sem nenhum critério. Por isso ia desde ao ataque criativo, corajoso e efetivo contra as gravadoras e toda a indústria cultural até a condescendência com as mesmas após provar que estava certo.
Lobão virou um personagem de si mesmo. Deixou de produzir música, passou a uivar somente. E sua metralhadora virou para Lula, o que ele deve julgar ser o suposto deus da vez, talvez o maior, para ele. Não é nada pessoal, nem sei se ele acredita em tudo que diz, talvez sim, talvez engane a si mesmo. Como não há critério, como não há lógica e como o caminho de mais adesão para esse uivo atual é a ignorância, o fascismo, a reprodução da herança da Casa Grande, Lobão passou a aderir à ditadura, a desdizer tudo que disse. Sua crítica não é à reprodução das mesmas contradições que o governo petista manteve, mas um discurso de pura e simplesmente fazer o coro com os reacionários, de repetir bravatas sobre um comunismo que nunca vai existir pelas mãos do PT.
Lobão virou somente uivo de contradições e incoerências. Afoga-se em frases tolas, alimenta-se de sua própria amargura e do eco que seu discurso ignorante pode ter. Não produz mais nada de relevante, não realiza nada de construtivo e caminha para o ostracismo. No fim, Lobão só quer ser notícia por ser liderança de um movimento patético, da luta do “sujo x mal lavado” que se consolida na política nacional. Lobão não é burro como muitos dizem, pode ser tolo, mas burro não.
Quem tem medo de Lobão? Quem é Lobão atualmente? Parem de falar sobre ele. Eu pararei aqui. Parem de compartilhar suas asneiras e parem de pedir para ele ir embora. Ele não vai, não iria mesmo e se fosse não resolveria o problema, pois ele continuaria a falar suas bobagens e vocês continuariam a respondê-lo, a compartilha-lo e a alimentá-lo nessa bad trip do seu fim de carreira: uma ilusória saga de um Dom Quixote que anda para trás, de um lobo que uiva mas não morde, de alguém que já tentou bater tanto em todo mundo que só atinge a si mesmo. Se esse personagem caricato ainda tem alguma relevância e aparenta qualquer seriedade, a culpa é mais nossa do que da sua própria insensatez.
segunda-feira, 13 de outubro de 2014
Aposta
Nos jogos de caça-níqueis
Quem ganha sempre é a banca
Por isso entre cara ou coroa
Prefiro o fim da moeda
quarta-feira, 8 de outubro de 2014
O Circo das Eleições: 2° turno e o falso debate político
Respeitável público, no bonde dos
iludidos, nas alas das vitórias inglórias e das derrotas tão rasas, quem
consegue sustentar mais suas mentiras? As apostas nunca acabam! O blefe também.
Diante de uma ameaça
terrível que é uma suposta volta de um governo tucano (toc, toc, toc) o drama
se torna o centro da trama eleitoral. Surgem aqueles que se calaram por tanto
tempo e se juntam aos cacos e clichês das falas que já se tornaram conhecidas mas
que não mais convencem. Esquecendo seus próprios erros, aparece um cinismo
pedante que quer responsabilizar quem sempre criticou as incoerências.
Como acredito que o medo, a pressa, o pavor e a comoção são
combustíveis da barbárie, me sinto obrigado a parar e refletir sobre isso.
Desculpem, mas antes de continuar, antes de dizer o óbvio, antes de reafirmar
que o PSDB representa a calamidade política desse país, não há como compactuar
com o mero pacto da mediocridade.
Vi um meme aqui no
facebook: "votar no PSDB para tirar o PT do poder é como comer merda para
parar de comer mc donalds". Concordo com a comparação do PSDB com as
fezes, mas a do PT é bastante generosa, pois o tal sanduíche é uma porcaria,
mas não chega ao nível desse governo. É preciso combater o PSDB sem fingir que
o PT é pelo menos razoável, pois não é.
Aí saltam as cobranças,
surgem os discursos inflamados e as denúncias sobre a tragédia tucana. Há muita
razão nisso. O que não é crível são os olhos e as cortinas fechadas para o que
o PT fez e faz. A angústia dessa falsa polarização é mote desse meu texto. Eu
realmente não queria falar do PT agora, vou tentar nem falar nas próximas
semanas, até por que, como diz o ditado popular, "um governo do PSDB é
ótimo, mas morrer queimado é melhor". Só me permitam desabafar nesse
momento. Só me permitam não me calar diante de tanto cinismo.
Eu não queria falar do PT
pois no PSDB temos o que é de mais vil, o antro de conservadores, elitistas,
oportunistas e tudo mais de ruim. Mas fica difícil quando a síndrome de
labirintite político-ideológica de muitos do Partido dos Trabalhadores querem
eternizar essa falsa polarização para somente permanecer aprofundando o
"seu" social-liberalismo. Fica difícil quando o jogo de palavras se
torna cada vez mais esgotado pela própria lógica do governo que em mais de uma
década tem como modelo eleitoral se tornar ainda mais parecido com aquilo que o
ameaça: "se o agronegócio ameaça nossa eleição, nos pareçamos com eles, se
os fundamentalistas religiosos ameaçam nossa eleição nos pareçamos com eles, se
os tucanos..." enfim, entenderam, né?
Pois é, eu não queria falar
do PT por que acho que quem fala que o PSDB é muito pior AINDA tem razão, mas
tem cada vez menos, pois eu só vejo interesse desse partido em buscar
diferenciação substancial nas bravatas cotidianas de suas bases e nos períodos
eleitorais como o de agora e somente para parte do eleitorado, para a elite o
discurso é que "somos além de parecidos, melhores".
Até quando o único
argumento será o medo do passado para sermos escravos do presente? Quanto foi
feito para o processo de avanço de participação popular, de politização, de
edificação de uma contra-hegemonia de esquerda nessa última década para que os
militantes de esquerda - que foram caçados nas ruas ou nos ambientes de
trabalho por esse governo - tenham mínima confiança de que “daqui pra frente
tudo será diferente”? Será que não há ninguém para falar sobre isso além de
dizer "o PSDB é pior"? Isso eu já sei.
Acredito que aqueles que farão a opção pelo menos pior tem todo
o direito de fazê-la e tem ainda alguns argumentos para isso, mas não aceito o
dedo em riste para cima de quem sofreu perseguição e/ou que sempre denunciou
que as alianças e as táticas do governismo sempre levariam ao mesmo lugar.
Estão como medo de quem
Marina(aquela reacionária!) vai apoiar? Quem foi que a projetou? Por que não
acham que tem como acreditar que ela se tornou isso só a partir de 2010, né?
Estão com medo da campanha dos fundamentalistas religiosos? Quem afinou
diversas vezes para Marcos Feliciano, Malafaia e Cia? Nesse espetáculo tem
perguntas que ninguém quer responder. Sabe, eu também não quero o PSDB no
poder, nem quero Collor, Calheiros, Ferreira Gomes, Sarney, Kátia Abreu....
Sabe, eu não quero o PSDB e sua política entreguista no poder, nem quero as
contra-reformas travestidas de benfeitorias que estão em curso. Sabe, que tal
um debate mais politizado, que tal autocrítica, que tal a afirmação de uma
divergência real? Parece impossível?
Que tal o PT parar de
alimentar os monstros e depois exigir ajuda para acabar com eles? Pedirei algo
mais simples, que tal pelo menos a parcela de militantes que está por aí nas
bases refletir sobre suas práticas desonestas que atingem aqueles que ousam
divergir do governo e do partido? Que tal aproveitar o momento para pensar e
não mais beneficiar suas patotas políticas e boicotar quem faz crítica de
esquerda nos espaços das categorias profissionais, nos movimentos sociais ou
mesmo nos espaços de trabalho? Ou vão dizer que ninguém conhece pelo menos um
caso desses?
Não seria de bom tom se
pudéssemos dizer que além do PSDB ser mais corrupto, mais elitista, mais
privatista ele também tem mais gente escrota que se identifica com o partido e
busca minar qualquer pensamento diferente nos espaços que tem algum poder?
Nesse quesito, tucanos e petistas já estão em empate técnico, com alguma margem
de erro.
Eu não queria falar do PT
agora e desejo que ninguém vote no PSDB, mas cinismo não é algo razoável. E
vejam que eu não estou tocando na essência da coisa, vejam que estou sendo
trivial, observem que não estou falando sequer da política econômica, da agenda
do Banco Mundial cumprida à risca, nem perderei meu tempo repetindo o que
dezenas de analista críticos e competentes já disseram do famigerado neodesenvolvimentismo.
Aqui somente estou cobrando a responsabilidade do PT em não conseguir politizar
e se diferenciar de verdade, por que parece que de repente, não mais que de
repente, o inferno são sempre os outros.
Quando termina o apoio
crítico e começa o pacto da mediocridade? Como já disse uma vez, é chato, mas
preciso me dirigir aos atores desse show, aqueles que passeiam em baixo do sol
de dois em dois anos, que animam-se em gritos e guerras, que torcem, que
engolem a tosse e mordem a língua em busca do banquete do poder. Alianças
tantas, tão frígidas quantos reais apareceram e desapareceram com o mesmo teor
de mágica. Em prateleiras tão pobres as escolhas escassas se sobrepuseram com
muito espetáculo, poucos amores e tantas paixões. Meras bravatas não cabem mais.
“Debateremos projetos
distintos” – falam os semelhantes entre si e desiguais entre tantos. Espelhos
que refletem o que muitos querem esconder, pinturas fantasiosas, fotografias
mil, poucos retratos e menos ainda a merecida retratação: eis a eleição! Essa
caixa de Pandora tão emblemática revelando cisões, dilemas e mitos. E hoje? E
amanhã? O que farão aqueles que apostam errado? É hora de esquecer tudo “em
nome de continuar mudando”? Quando poderemos discutir de verdade? Há lições a
serem aprendidas em um pleito ou esse é um campo definitivo de claques e
claquetes? As acusações de hoje se anulam com os abraços de ontem? Há
possibilidade dessa peça não ser farsa? Duvido muito.
Se a eleição passa e o povo
fica, só almejo que fiquemos! Fiquemos vigilantes e atuantes ali onde a urna
não chega. E que aqueles que se escorraçam hoje sejam coerentes suficientes, a
partir de agora pelo menos, para fazer diferente, se isso é permitido. Duvido
muito.
Entre o barulho das
buzinas, dos jingles e dos fogos ficam aqui ensurdecidas tantas interrogações:
Que tal não esperar o leite derramar para começar o chororô? Que tal não
alimentar monstros, acariciá-los e depois colocar o dedo em riste em uma busca
autoritária e desesperada por ajuda para deixar o seu cínico parceiro transformar-se,
no acender das luzes, no mais tenaz adversário?
Ah essas lições! As lições
de casa que nunca são feitas e que aparecem em tantos papéis voando, espalhados
pelas ruas, prometendo a colheita da felicidade, do amor e do carinho num
terreno onde se plantou egoísmo e cinismo. Hoje não aplaudo o drama nem a
dramatização. Queria eu acreditar que agora pudesse ser diferente.
Queria eu não precisar
falar do PT. Estou convicto que o pior cenário para o país é ter o PSDB no
poder, mas não posso me furtar de colocar minhas angústias por novamente me
deparar com os mesmos argumentos de sempre. Não posso me furtar de lamentar.
Nenhum voto em Aécio?
Nenhum!!!! Do resto eu já não sei, espero um debate coletivo, responsável e
sincero, pois participar de mais um teatro eleitoral por migalhas não me
apetece.
Se
o voto é contra o PSDB, se o voto é nulo, se o voto é no PT, isso depende de
cada um e dos debates coletivos das forças políticas. Eu queria mesmo alguma
autocrítica de quem apoiou e apoia esse governo. Novamente, duvido muito. Mas
seja quem for o/a mestre de cerimônia desse circo, ela ou ele poderão me
encontrar do lado de fora, nas ruas, com o povo que pede transformação.
quarta-feira, 24 de setembro de 2014
Resignação
Pela impossibilidade de ser feliz
Se contentou com migalhas de riso
Ao ser obrigado a ficar quieto
Sua maior ousadia foi respirar
Quando disseram que sonhar bastava
O pesadelo foi o companheiro de suas noites
Quando gritaram sobre o medo do passado
Parou de caminhar para preservar o presente
E ao esclarecerem que ser livre era impossível
Livrou-se de si mesmo e prendeu-se aos seus pés
Viveu sobre si
Sobreviveu
E só
quarta-feira, 2 de julho de 2014
Leões e Zebras
Humilhados e exaltados sabem
Nada é por acaso
Os humilhados sagram sem perdão
Nada é por acaso
Os humilhados sagram sem perdão
Os exaltados bebem em devoção
O sangue é o mesmo e é exaltado
O sangue é vermelho
Não é por acaso
O sangue é vermelho
Não é por acaso
E pela sede de satisfação
Uns humilhados querem humilhar
Outros cansados querem exaltar
Junto da marcha da humilhação
A tosca farsa da enganação
E uma certeza sempre sorrateira
Que entre aqueles leões e as zebras
Pacto de sangue será sempre não
Podres os párias da pobre prisão
Os exaltados serão o que são
sábado, 14 de junho de 2014
A Farra do Menino Mimado em 12 de Junho
É dia de alegria, mas o menino mimado quer mostrar que é rebelde. Mesmo todo engomadinho, certinho, com seu liso cabelo partido para o lado direito, o guri é sapeca, gosta de ficar junto com seus coleguinhas e pregar peças naqueles que estão ao redor. A insatisfação é sua brincadeira preferida e mesmo sendo costumeiramente cordial com seus coleguinhas, ele também é bastante boquirroto quando quer. A ocasião parece especial para quem olha de longe, mas o menino vive mais um dia normal em sua vida, ele tem tudo o que quer nas mãos, embora viva eternamente insatisfeito.
Hoje é dia de festa, evento certeiro para as peripécias do menino, mas como a parte menos abastada da família não estará lá - foco principal de suas galhofas - o jeito é ter como alvo quem melhor lembra aquele pessoal que ele detesta, por acaso, a pessoa é justamente a sua tiazona que o mima sem parar e sempre esquece do resto da família. Esse comportamento, obviamente, só reforça a má educação do menino, mas a tiazona é boa e só quer agradar. A tiazona está sempre solícita, sorridente, tentando deixar o menininho feliz. Ela nem queria chatear os outros membros da família, mas "sabe como é, né, o menino quis, esse pessoal também é muito impaciente, não entende que ele é diferenciado, precisa de mais atenção".
Hoje é dia de festa, evento certeiro para as peripécias do menino, mas como a parte menos abastada da família não estará lá - foco principal de suas galhofas - o jeito é ter como alvo quem melhor lembra aquele pessoal que ele detesta, por acaso, a pessoa é justamente a sua tiazona que o mima sem parar e sempre esquece do resto da família. Esse comportamento, obviamente, só reforça a má educação do menino, mas a tiazona é boa e só quer agradar. A tiazona está sempre solícita, sorridente, tentando deixar o menininho feliz. Ela nem queria chatear os outros membros da família, mas "sabe como é, né, o menino quis, esse pessoal também é muito impaciente, não entende que ele é diferenciado, precisa de mais atenção".
O menino então chega à festinha que a tiazona ajudou a fazer, come o lanchinho que ela cozinhou para ele ficar feliz e então reclama. Ele adora reclamar. Enquanto isso, a tiazona faz de tudo pra agradar o menino, esse parente distante, riquinho e emburrado que quer ser rebelde. Do lado de fora, parte do resto da família está realmente “p da vida” com a falta de zelo que a tiazona não concentra nas coisas mais importantes para todo mundo dali, pois ela gastou muito dinheiro e trabalho com uma festinha boba só para tentar agradar esse menino mimado e mal educado e só as migalhas e os restos sobraram para toda a família. Essa festinha é de fato polêmica, gerou discórdia, mas a Tiazona não gosta que falem do menino, por isso deixou toda a parte chateada da família de fora da comemoração para não gerar mais problema.
A festinha está mais ou menos pronta. Com muita dificuldade, sob gritos do resto da família, mas sem nunca desistir, a tiazona faz a decoração, os brinquedos, o lanchinho como pode e não deixa ninguém chegar perto antes do menino, afinal, ele é a razão de tudo. Ainda sim, o menino rebelde, comendo, se divertindo e pulando xinga a tiazona! Ele está com raiva e diz que a festa está péssima, brada, chora e esperneia enquanto brinca no parquinho.
O menino xinga, mas não vai embora da festa, ele fala que os balões são feios, reclama que a comida está ruim, mesmo se empanturrando com a mesma. E exatamente na hora do discurso, naquele momento que a tiazona deixa todo o resto da família trancada do lado de fora só para o menino rebelde se divertir com os amiguinhos, ele vai lá e manda um sonoro “vai tomar no cu” na cara da tiazona. Ela fica meio envergonhada, pensa: "que coisa mais feia, menino", porém, o mal educado não se importa, pois ele quer mostrar para os amiguinhos que pode humilhar quem lhe serve e que é um garoto reclamão, exigente e capaz de ser ainda mais descontente do que o resto da família que está chateada do lado de fora. O menino é mimado, quer mostrar que é rebelde e faz isso na frente dos coleguinhas, sob constrangimento e posterior sorriso de sua bondosa tiazona. Sim, ela sorri. A tiazona é legal, pelo menos para o menino.
E assim, o menino e a tiazona vivem e continuarão vivendo sua relação quase promíscua, envolta de tapas, beijos, xingamentos, favores, subserviência e falta de agradecimento. O menino mimado gosta mesmo é de xingar e a tiazona parece gostar de ser xingada. “Oh menino sapeca, parece que nunca está satisfeito, quer um cafuné?”.
terça-feira, 10 de junho de 2014
Veneno
Se as cobras tivessem pernas elas
andariam lado-a-lado contigo, fingiriam semelhante a você, dariam um passo para trás e então quando percebessem sua distração poderiam passar uma
rasteira pelas suas costas sem nenhum problema. Se elas tivessem mãos poderiam
te cumprimentar, fingir civilidade, amizade, solidariedade e depois fazer
gestos obscenos com os dedos quando você estivesse longe. Ela poderiam também te enforcar num abraço, é da natureza de algumas. Se as cobras falassem
não precisariam do veneno, suas palavras elogiosas em sua presença se
transformariam em fofocas, melindres e polêmicas rasas quando seus ouvidos não
pudessem notar. Uma cobra falante com meia dúzia de meias verdades para uma alma meia-boca e a mediocridade reinaria.
Se uma cobra tivesse corpo de
humano, face de humano e trejeito de humano ela iria dissimular por meio
de bajulações, manipular pelo terrorismo, enganar pelo pavor, dissuadir com abraços e afagos,
desenvolver meios de jogar com as pessoas até ficarem umas contra as outras, se alimentando de
boatos, se fartando com ambientes pesados e se viciando em manias de perseguição.
Se algumas cobras fossem humanas elas poderiam conviver contigo, sair para beber uma cerveja, entrar em suas redes sociais na internet, convidar para projetos futuros, perguntar sobre seus planos, dizer que torce por ti e ainda assim passariam quase ilesas ante a mediocridade do rastejar que seus passos esconderiam, obscurecendo as intempéries invisíveis que suas mãos lisas temperariam e o veneno simbólico que a língua ferina faria chover. A dádiva da cobra é perceber todos à sua altura ali no chão.
Se algumas cobras fossem humanas elas poderiam conviver contigo, sair para beber uma cerveja, entrar em suas redes sociais na internet, convidar para projetos futuros, perguntar sobre seus planos, dizer que torce por ti e ainda assim passariam quase ilesas ante a mediocridade do rastejar que seus passos esconderiam, obscurecendo as intempéries invisíveis que suas mãos lisas temperariam e o veneno simbólico que a língua ferina faria chover.
Se as cobras fossem como os
humanos a covardia seria ainda maior, no entanto, a astucia seria prejudicada
pelo ar de superioridade, já que sempre iriam achar que ninguém seria inteligente
o suficiente para notar os jogos, os dramas, as farsas tão perenes. Se as cobras fossem
como seres humanos o seu verdadeiro veneno seria jorrado pela intriga, pelo rancor, pela inveja, com amargura, com desrespeito, com gosto de derrota e solidão.
Se alguns humanos fossem cobras o
mundo seria melhor.
A gratidão e o orgulho de ser professor
A gratidão e o orgulho de ser professor
Quando decidi ser professor sempre pensei que não queria ser nem o professor bonzinho, nem o professor temido pelos alunos. Esses dois lados estão marcando a aparência de uma mesma moeda que ferra o processo educativo num modo enviesado, superficial e arcaico.
A busca por agradar a qualquer custo, pelo caminho aparentemente mais fácil, ou melhor, que tenha menos esforço, fazendo assim um pacto de mediocridade em sala de aula não faz parte daquilo que acredito. Por outro lado, também não acredito num processo pelo autoritarismo, pelo medo, pelo pedantismo, num processo reprodutivo dos quarteis e suas fileiras, da confusão entre disciplina e ordem repressora, da vivência educacional mais conservadora e ignorante.
Quando um grupo de estudantes na semana passada resolveu espalhar cartazes pela internet e por todo o campus da universidade que trabalho pedindo para que eu e minha companheira ficássemos aqui, eu tive a certeza de que, embora ainda seja um jovem aprendiz nessa carreira, eu estou caminhando dentro da coerência, da ética e da convicção da busca por outro modelo no processo educativo.
Quando alunas que foram reprovadas nas disciplinas pedem para você ficar, há algo maior do que mero carisma, há a materialização de um trabalho que vai para além do aparente e isso ninguém pode negar. Por outro lado, quando alunas e alunos dizem que você foi um dos três melhores professores que tiveram na vida admito que fico feliz, mas tudo isso não me envaidece, posto que não estou numa disputa de ego, não participo de uma gincana infantil para saber quem e porque um ou outro é mais querido, nem faço parte da dissimulação de parte da comunidade acadêmica que constrói os púlpitos das cátedras, reproduzindo a moeda egoísta da vaidade pelos quatro cantos do mundo.
Mas sim, eu fico orgulhoso do meu trabalho, fico orgulhoso dessa profissão e fico orgulhoso por sempre buscar tratar xs alunxs com respeito, sem subestimar a inteligência de ninguém, cobrando resultados e, acima de tudo, buscando construir um processo pedagógico onde elxs enxerguem sentido naquele lugar, naqueles conteúdos e, sobretudo, que enxerguem coerência entre o que eu defendo e o que eu faço.
A minha decisão de tornar-se professor não veio por súbito, foi construída ao longo do tempo e com a convivência com mestres que me inspiraram. Ao longo dos anos tive professores e professoras que com sua forma de apresentar o conteúdo superavam esse ato. Esses conseguiam construir algo novo ali, dialogavam, vivenciavam para além da lógica da educação bancária. Foram esses xs professores que me encantaram. Elxs que me faziam ter vontade de estudar mesmo quando que eu não tinha tanta identificação com o conteúdo ou quando o cansaço (ou a preguiça) limitavam as densas e intermináveis leituras. Essxs professores tinham uma capacidade de síntese impressionante e ao mesmo tempo podiam concatenar assuntos díspares e mostrar as mediações que eu ainda não tinha maturidade teórica para perceber, tudo isso me deixava admirado.
Esse encantamento foi primordial, algo que procurei apreender e aguçar, algo que depois eu iria perceber para além do trivial na metodologia do ensino, nos estudos sobre didática, no aprofundamento da dimensão pedagógica, mas também no exercício cotidiano de construção de um espaço educacional diferente do hegemônico. Não alijar a tessitura entre forma e conteúdo, entre o arcabouço teórico, o sentido ético-político e a dimensão de que além de meras palavras ao vento é necessário agir de modo autêntico. Tudo isso foi modelar e tomou status de alicerce profissional para mim.
Do outro lado, também tive professorxs que me ensinaram o que eu não queria ser. Professorxs que faziam com que eu tivesse vontade de me afastar do conteúdo, que achavam que enfiando goela abaixo terrorismo, autoritarismo, palavras difíceis e seus discursos pedantes numa eloquência ignorante e enviesada poderiam conquistar um suposto respeito, no auge da falta de autoconfiança. Vi muita gente culpar a teoria pela falta de coerência dos interlocutores, acompanhei sujeitos com ojeriza dos espaços acadêmicos pelo que os agentes faziam ao expor colegas, estudantes e demais sujeitos a experiências constrangedoras.
Por isso, além do esforço teórico peculiar ao longo desses anos, além da mera experiência acadêmica em si, a compreensão de que o processo educativo não é um show de entretenimento, mas também não é um campo de concentração vem me formando professor. Como um jovem profissional, mas com bastante experiência nesses férteis e difíceis últimos anos, fico extremamente feliz que um grupo de alunxs, servidores técnicos e colegas professores reconheçam esse esforço. Fico extremamente feliz de ver estudantes ou pedindo para que fiquemos, ou simplesmente reconhecendo aquilo que foi trabalhado em sala de aula, desde aquelxs alunxs que tiraram notas altas até xs que estiveram com dificuldades e souberam perceber suas deficiências e o sentido para além do insucesso imediato.
As ponderações de minha decisão futura e sobre o caráter sentimental do movimento eu expus nos comentários que fiz na mesma hora que vi o início da campanha. Falei dos meus motivos e motivações, falei de que aquela iniciativa deveria ser politizada e voltada para outros atores, falei isso antes de qualquer outra pessoa e colocarei abaixo esse texto de semana passada. No entanto, compreendo e não deslegitimo o ato de carinho que foi construído e expressado ali. Valorizo sim a atitude de reconhecimento que foi ratificada, também acho que ninguém tem o direito de deslegitimar isso, buscar satisfações ou qualquer coisa do gênero.
O ato sentimental, o carinho, o respeito também faz parte da seara do que acredito e sim, agradeço àquelxs que se dedicaram nesse ato, guardarei para sempre esse momento e mais uma vez tive a oportunidade de aprender com meus alunxs. Não se trata de demagogia, trata-se de convicção. De buscar sempre dialogar e não vomitar currículo, conteúdo, autoridade ou minha visão.
Não estou aqui com essas palavras e nem em sala de aula "jogando pra torcida", fazendo proselitismo ou qualquer elemento similar. Minhas palavras, seja aqui ou acolá, não são nem para agradar todo mundo, nem para não agradar ninguém. Falo pelas minhas experiências, leituras e convicções. Minhas palavras e atitudes procuram sentido e direção político-pedagógicas claras e que a dimensão ética é tomada não como mera abstração, mas em seu sentido concreto, vivo, suspendendo essas esparrelas cotidianas e buscando construir algo diferente, primando pela qualidade, pela humanização, pela coerência, errando em muitos momentos, mas sempre querendo acertar e tendo a humildade de rever, refazer, reconstruir. Sei que não estou só, sei que não estarei e sei que quem acreditar nisso - apesar dos pesares - nunca estará.
Feliz, agradeço novamente a vocês por me ensinarem gratidão, agradeço aos meus bons professores e professoras por me inspirarem ao longo do tempo. Sei que tenho muito que aprender, sei que estou longe de ser o professor que quero ser, mas sei que estou ainda mais distante de ser o professor que eu não quero ser. Ainda bem!
Reafirmo o desejo de que possamos todxs aprendermos com os acontecimentos. Que os pedidos e as buscas sejam maiores, que as discussões seja por projetos, sobre as práticas e que passemos a discutir menos as pessoas. Mas que também não eliminemos a ternura, o sentimento de bondade e a gratidão no ambiente educacional que em alguns níveis fica tão envolto de disputismos, melindres e vaidades.Como é bom encontrar companheirxs, sejam alunos, professores, técnicos ou qualquer um que construa outra lógica!
Valeu, pessoal! Reverbero o que escrevi semana passada:
""""""""""""""""""""A luta é outra! hehehe
Querid@s alun@s,
Meu povo, oh a chantagem, a coisa é mais complexa, ehehe
O reconhecimento de vocês é o melhor prêmio que um docente pode receber. Para quem acredita na construção de uma universidade popular, socialmente referenciada na classe trabalhadora e pedagogicamente séria, perceber que o trabalho - ainda que dentro de um processo tão precarizado – pode gerar um ambiente de aprendizado e de edificação de uma parceria fraterna e respeitosa entre nós e vocês é maravilhoso. Mas a vida nos coloca dificuldades, nos oferece alternativas e nos desafia a construir nossas possibilidades dentro do que não planejamos.
Agradeço demais o carinho com que nos trataram, o esforço nas disciplinas e esse gesto de agora. No entanto, o leque de possibilidades que se abriram nas últimas semanas não surgiram do nada. Quando viemos para cá não foi pensando em ir embora, mas por uma série de fatores e sobretudo, pela incerteza na condição de substituto me fez decidir fazer esses concursos que surgiram para buscar uma condição melhor de trabalho. Pois bem, nesse meio tempo muita coisa aconteceu, boas e ruins, muitas que não convém explicitar, mas a morosidade para que os processos acontecessem aqui , junto com um certo desgaste pessoal, além da aprovação nos concursos nos fez pensar e repensar. A decisão nunca é fácil, mas é tomada de modo responsável e nunca de modo meramente instantâneo, há razões para tudo.
Vejam só, nós iremos, não sabemos quando, essa é uma decisão tomada por uma série de coisas pessoais e profissionais. Até lá, estaremos com vocês e com nossos colegas com o mesmo profissionalismo de sempre, com a mesma alegria e respeito em sala de aula. O que precisa ficar explicito é que a responsabilidade da falta de professores não é nossa, nem de nossos colegas. É preciso que tod@s possamos refletir sobre tudo que ocorreu e aprendemos com esse processo. Os cartazes precisavam e ainda precisam se voltarem de forma politicamente clara e por um projeto de universidade e não pela decisão de alguns professores que, repito, não foi em vão.
Agradeço o carinho e mobilização, vejo como uma homenagem. Mas rogo que ela se volte para que quem administra essa universidade em seus diversos níveis e o governo federal, para que os pedidos não sejam mais pessoais e individuais, mas sim numa campanha e luta por uma universidade pública, gratuita, de qualidade, laica, para todas e todos, anti-homofóbica, anti-racista e popular. Para que alun@s tenham condições reais de estudar, para que professores e técnicos tenham condições reais de trabalhar com qualidade e que ninguém mais precise, por ventura, pedir pessoalmente que ninguém não vá embora. Enfim, a campanha, embora carinhosa e que me encha de orgulho, deve ser direcionada para que os processos futuros sejam diferentes, o nosso é o nosso e ocorreu como ocorreu. E não cabe a nós agora a responsabilidade que era de outras.
No mais, só muita gratidão e a certeza de que onde estiver estaremos trocando saberes e construindo a formação profissional no rumo de nosso projeto ético-político, nos encontraremos nos congressos, nos espaços profissionais e demais esquinas da vida e vocês poderão até tirar uma foto mais bonitinha do que essa da gente com chapeuzinhos, hehehe .
Obrigado, levarei vocês no coração, até mais, revejam a campanha, construam muitas outras! Deixo uma reflexão mais que oportuna:
"Não podemos impedir que a burguesia e seus aliados expressem seus interesses no fazer diário da Universidade, mas temos o dever de apresentar ali os interesses dos trabalhadores. Devemos afirmar, parodiando Brecht, que ali onde a burguesia fale, os trabalhadores falarão, ali onde os exploradores afirmem seus interesses, os explorados gritarão seus direitos, ali onde os dominadores tentarem mascarar sua dominação sob o véu ideológico da universalidade, os dominados mostrarão as marcas e cicatrizes de sua exploração." Mauro Iasi""""
Quando decidi ser professor sempre pensei que não queria ser nem o professor bonzinho, nem o professor temido pelos alunos. Esses dois lados estão marcando a aparência de uma mesma moeda que ferra o processo educativo num modo enviesado, superficial e arcaico.
A busca por agradar a qualquer custo, pelo caminho aparentemente mais fácil, ou melhor, que tenha menos esforço, fazendo assim um pacto de mediocridade em sala de aula não faz parte daquilo que acredito. Por outro lado, também não acredito num processo pelo autoritarismo, pelo medo, pelo pedantismo, num processo reprodutivo dos quarteis e suas fileiras, da confusão entre disciplina e ordem repressora, da vivência educacional mais conservadora e ignorante.
Quando um grupo de estudantes na semana passada resolveu espalhar cartazes pela internet e por todo o campus da universidade que trabalho pedindo para que eu e minha companheira ficássemos aqui, eu tive a certeza de que, embora ainda seja um jovem aprendiz nessa carreira, eu estou caminhando dentro da coerência, da ética e da convicção da busca por outro modelo no processo educativo.
Quando alunas que foram reprovadas nas disciplinas pedem para você ficar, há algo maior do que mero carisma, há a materialização de um trabalho que vai para além do aparente e isso ninguém pode negar. Por outro lado, quando alunas e alunos dizem que você foi um dos três melhores professores que tiveram na vida admito que fico feliz, mas tudo isso não me envaidece, posto que não estou numa disputa de ego, não participo de uma gincana infantil para saber quem e porque um ou outro é mais querido, nem faço parte da dissimulação de parte da comunidade acadêmica que constrói os púlpitos das cátedras, reproduzindo a moeda egoísta da vaidade pelos quatro cantos do mundo.
Mas sim, eu fico orgulhoso do meu trabalho, fico orgulhoso dessa profissão e fico orgulhoso por sempre buscar tratar xs alunxs com respeito, sem subestimar a inteligência de ninguém, cobrando resultados e, acima de tudo, buscando construir um processo pedagógico onde elxs enxerguem sentido naquele lugar, naqueles conteúdos e, sobretudo, que enxerguem coerência entre o que eu defendo e o que eu faço.
A minha decisão de tornar-se professor não veio por súbito, foi construída ao longo do tempo e com a convivência com mestres que me inspiraram. Ao longo dos anos tive professores e professoras que com sua forma de apresentar o conteúdo superavam esse ato. Esses conseguiam construir algo novo ali, dialogavam, vivenciavam para além da lógica da educação bancária. Foram esses xs professores que me encantaram. Elxs que me faziam ter vontade de estudar mesmo quando que eu não tinha tanta identificação com o conteúdo ou quando o cansaço (ou a preguiça) limitavam as densas e intermináveis leituras. Essxs professores tinham uma capacidade de síntese impressionante e ao mesmo tempo podiam concatenar assuntos díspares e mostrar as mediações que eu ainda não tinha maturidade teórica para perceber, tudo isso me deixava admirado.
Esse encantamento foi primordial, algo que procurei apreender e aguçar, algo que depois eu iria perceber para além do trivial na metodologia do ensino, nos estudos sobre didática, no aprofundamento da dimensão pedagógica, mas também no exercício cotidiano de construção de um espaço educacional diferente do hegemônico. Não alijar a tessitura entre forma e conteúdo, entre o arcabouço teórico, o sentido ético-político e a dimensão de que além de meras palavras ao vento é necessário agir de modo autêntico. Tudo isso foi modelar e tomou status de alicerce profissional para mim.
Do outro lado, também tive professorxs que me ensinaram o que eu não queria ser. Professorxs que faziam com que eu tivesse vontade de me afastar do conteúdo, que achavam que enfiando goela abaixo terrorismo, autoritarismo, palavras difíceis e seus discursos pedantes numa eloquência ignorante e enviesada poderiam conquistar um suposto respeito, no auge da falta de autoconfiança. Vi muita gente culpar a teoria pela falta de coerência dos interlocutores, acompanhei sujeitos com ojeriza dos espaços acadêmicos pelo que os agentes faziam ao expor colegas, estudantes e demais sujeitos a experiências constrangedoras.
Por isso, além do esforço teórico peculiar ao longo desses anos, além da mera experiência acadêmica em si, a compreensão de que o processo educativo não é um show de entretenimento, mas também não é um campo de concentração vem me formando professor. Como um jovem profissional, mas com bastante experiência nesses férteis e difíceis últimos anos, fico extremamente feliz que um grupo de alunxs, servidores técnicos e colegas professores reconheçam esse esforço. Fico extremamente feliz de ver estudantes ou pedindo para que fiquemos, ou simplesmente reconhecendo aquilo que foi trabalhado em sala de aula, desde aquelxs alunxs que tiraram notas altas até xs que estiveram com dificuldades e souberam perceber suas deficiências e o sentido para além do insucesso imediato.
As ponderações de minha decisão futura e sobre o caráter sentimental do movimento eu expus nos comentários que fiz na mesma hora que vi o início da campanha. Falei dos meus motivos e motivações, falei de que aquela iniciativa deveria ser politizada e voltada para outros atores, falei isso antes de qualquer outra pessoa e colocarei abaixo esse texto de semana passada. No entanto, compreendo e não deslegitimo o ato de carinho que foi construído e expressado ali. Valorizo sim a atitude de reconhecimento que foi ratificada, também acho que ninguém tem o direito de deslegitimar isso, buscar satisfações ou qualquer coisa do gênero.
O ato sentimental, o carinho, o respeito também faz parte da seara do que acredito e sim, agradeço àquelxs que se dedicaram nesse ato, guardarei para sempre esse momento e mais uma vez tive a oportunidade de aprender com meus alunxs. Não se trata de demagogia, trata-se de convicção. De buscar sempre dialogar e não vomitar currículo, conteúdo, autoridade ou minha visão.
Não estou aqui com essas palavras e nem em sala de aula "jogando pra torcida", fazendo proselitismo ou qualquer elemento similar. Minhas palavras, seja aqui ou acolá, não são nem para agradar todo mundo, nem para não agradar ninguém. Falo pelas minhas experiências, leituras e convicções. Minhas palavras e atitudes procuram sentido e direção político-pedagógicas claras e que a dimensão ética é tomada não como mera abstração, mas em seu sentido concreto, vivo, suspendendo essas esparrelas cotidianas e buscando construir algo diferente, primando pela qualidade, pela humanização, pela coerência, errando em muitos momentos, mas sempre querendo acertar e tendo a humildade de rever, refazer, reconstruir. Sei que não estou só, sei que não estarei e sei que quem acreditar nisso - apesar dos pesares - nunca estará.
Feliz, agradeço novamente a vocês por me ensinarem gratidão, agradeço aos meus bons professores e professoras por me inspirarem ao longo do tempo. Sei que tenho muito que aprender, sei que estou longe de ser o professor que quero ser, mas sei que estou ainda mais distante de ser o professor que eu não quero ser. Ainda bem!
Reafirmo o desejo de que possamos todxs aprendermos com os acontecimentos. Que os pedidos e as buscas sejam maiores, que as discussões seja por projetos, sobre as práticas e que passemos a discutir menos as pessoas. Mas que também não eliminemos a ternura, o sentimento de bondade e a gratidão no ambiente educacional que em alguns níveis fica tão envolto de disputismos, melindres e vaidades.Como é bom encontrar companheirxs, sejam alunos, professores, técnicos ou qualquer um que construa outra lógica!
Valeu, pessoal! Reverbero o que escrevi semana passada:
""""""""""""""""""""A luta é outra! hehehe
Querid@s alun@s,
Meu povo, oh a chantagem, a coisa é mais complexa, ehehe
O reconhecimento de vocês é o melhor prêmio que um docente pode receber. Para quem acredita na construção de uma universidade popular, socialmente referenciada na classe trabalhadora e pedagogicamente séria, perceber que o trabalho - ainda que dentro de um processo tão precarizado – pode gerar um ambiente de aprendizado e de edificação de uma parceria fraterna e respeitosa entre nós e vocês é maravilhoso. Mas a vida nos coloca dificuldades, nos oferece alternativas e nos desafia a construir nossas possibilidades dentro do que não planejamos.
Agradeço demais o carinho com que nos trataram, o esforço nas disciplinas e esse gesto de agora. No entanto, o leque de possibilidades que se abriram nas últimas semanas não surgiram do nada. Quando viemos para cá não foi pensando em ir embora, mas por uma série de fatores e sobretudo, pela incerteza na condição de substituto me fez decidir fazer esses concursos que surgiram para buscar uma condição melhor de trabalho. Pois bem, nesse meio tempo muita coisa aconteceu, boas e ruins, muitas que não convém explicitar, mas a morosidade para que os processos acontecessem aqui , junto com um certo desgaste pessoal, além da aprovação nos concursos nos fez pensar e repensar. A decisão nunca é fácil, mas é tomada de modo responsável e nunca de modo meramente instantâneo, há razões para tudo.
Vejam só, nós iremos, não sabemos quando, essa é uma decisão tomada por uma série de coisas pessoais e profissionais. Até lá, estaremos com vocês e com nossos colegas com o mesmo profissionalismo de sempre, com a mesma alegria e respeito em sala de aula. O que precisa ficar explicito é que a responsabilidade da falta de professores não é nossa, nem de nossos colegas. É preciso que tod@s possamos refletir sobre tudo que ocorreu e aprendemos com esse processo. Os cartazes precisavam e ainda precisam se voltarem de forma politicamente clara e por um projeto de universidade e não pela decisão de alguns professores que, repito, não foi em vão.
Agradeço o carinho e mobilização, vejo como uma homenagem. Mas rogo que ela se volte para que quem administra essa universidade em seus diversos níveis e o governo federal, para que os pedidos não sejam mais pessoais e individuais, mas sim numa campanha e luta por uma universidade pública, gratuita, de qualidade, laica, para todas e todos, anti-homofóbica, anti-racista e popular. Para que alun@s tenham condições reais de estudar, para que professores e técnicos tenham condições reais de trabalhar com qualidade e que ninguém mais precise, por ventura, pedir pessoalmente que ninguém não vá embora. Enfim, a campanha, embora carinhosa e que me encha de orgulho, deve ser direcionada para que os processos futuros sejam diferentes, o nosso é o nosso e ocorreu como ocorreu. E não cabe a nós agora a responsabilidade que era de outras.
No mais, só muita gratidão e a certeza de que onde estiver estaremos trocando saberes e construindo a formação profissional no rumo de nosso projeto ético-político, nos encontraremos nos congressos, nos espaços profissionais e demais esquinas da vida e vocês poderão até tirar uma foto mais bonitinha do que essa da gente com chapeuzinhos, hehehe .
Obrigado, levarei vocês no coração, até mais, revejam a campanha, construam muitas outras! Deixo uma reflexão mais que oportuna:
"Não podemos impedir que a burguesia e seus aliados expressem seus interesses no fazer diário da Universidade, mas temos o dever de apresentar ali os interesses dos trabalhadores. Devemos afirmar, parodiando Brecht, que ali onde a burguesia fale, os trabalhadores falarão, ali onde os exploradores afirmem seus interesses, os explorados gritarão seus direitos, ali onde os dominadores tentarem mascarar sua dominação sob o véu ideológico da universalidade, os dominados mostrarão as marcas e cicatrizes de sua exploração." Mauro Iasi""""
quarta-feira, 4 de junho de 2014
Elogio da Ira
Toda vez que ela chega o meu espírito se acende, os sentidos aguçam, a coragem aparece e minha mente trabalha como nunca. Há quem diga que é o amor, há que fale que é a fé, outros, a convicção, mas em mim sempre foi a raiva o melhor combustível.
Amor, fé, convicção, tudo isso é fundamental. Mas a raiva é o tempero que compõe o sabor da batalha, a substância da indignação, o elemento que desenvolve em mim uma vontade essencial de superação. Não estou falando do ódio, daquilo que corrói a alma, de um sentimento irracional, cego e que apenas destrói. Estou falando daquilo que faz ranger os dentes, arregalar os olhos e romper as barreiras, desafiar o status quo e provar que algo é possível. Falo de uma raiva produtiva que consome o corpo, faz os pés caminharem mais rápidos e as mãos trabalharem melhor.
Há amor dentro da raiva, há fé e convicção também. Amo a justiça, sinto raiva da desigualdade, tenho fé na vida e que a ética é o melhor caminho e raiva dos opressores e suas posturas desonestas, sou convicto de que só a luta muda vida e sinto raiva de todos os obstáculos que aparecem no percurso. A raiva é essencial, a cólera que transcende e sucumbe à covardia diante da tirania que nos ameaça, a ira que salta aos olhos diante do desejo de destruição que o outro destila, a atitude, o pensamento, uma sede inexorável de uma batalha justa e de uma glória necessária.
O ódio é maldição, o medo é veneno, a convicção, uma arma. A raiva é produtiva. Sempre rendi com ela, sempre realizei mais e melhor. Ela é o combustível que aquece o meu sangue, catalisa minha criatividade e me faz vencer. Se meus desafetos soubessem o quanto eu produzo com raiva viveriam me fazendo cafuné.
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