Se as cobras tivessem pernas elas
andariam lado-a-lado contigo, fingiriam semelhante a você, dariam um passo para trás e então quando percebessem sua distração poderiam passar uma
rasteira pelas suas costas sem nenhum problema. Se elas tivessem mãos poderiam
te cumprimentar, fingir civilidade, amizade, solidariedade e depois fazer
gestos obscenos com os dedos quando você estivesse longe. Ela poderiam também te enforcar num abraço, é da natureza de algumas. Se as cobras falassem
não precisariam do veneno, suas palavras elogiosas em sua presença se
transformariam em fofocas, melindres e polêmicas rasas quando seus ouvidos não
pudessem notar. Uma cobra falante com meia dúzia de meias verdades para uma alma meia-boca e a mediocridade reinaria.
Se uma cobra tivesse corpo de
humano, face de humano e trejeito de humano ela iria dissimular por meio
de bajulações, manipular pelo terrorismo, enganar pelo pavor, dissuadir com abraços e afagos,
desenvolver meios de jogar com as pessoas até ficarem umas contra as outras, se alimentando de
boatos, se fartando com ambientes pesados e se viciando em manias de perseguição.
Se algumas cobras fossem humanas elas poderiam conviver contigo, sair para beber uma cerveja, entrar em suas redes sociais na internet, convidar para projetos futuros, perguntar sobre seus planos, dizer que torce por ti e ainda assim passariam quase ilesas ante a mediocridade do rastejar que seus passos esconderiam, obscurecendo as intempéries invisíveis que suas mãos lisas temperariam e o veneno simbólico que a língua ferina faria chover. A dádiva da cobra é perceber todos à sua altura ali no chão.
Se algumas cobras fossem humanas elas poderiam conviver contigo, sair para beber uma cerveja, entrar em suas redes sociais na internet, convidar para projetos futuros, perguntar sobre seus planos, dizer que torce por ti e ainda assim passariam quase ilesas ante a mediocridade do rastejar que seus passos esconderiam, obscurecendo as intempéries invisíveis que suas mãos lisas temperariam e o veneno simbólico que a língua ferina faria chover.
Se as cobras fossem como os
humanos a covardia seria ainda maior, no entanto, a astucia seria prejudicada
pelo ar de superioridade, já que sempre iriam achar que ninguém seria inteligente
o suficiente para notar os jogos, os dramas, as farsas tão perenes. Se as cobras fossem
como seres humanos o seu verdadeiro veneno seria jorrado pela intriga, pelo rancor, pela inveja, com amargura, com desrespeito, com gosto de derrota e solidão.
Se alguns humanos fossem cobras o
mundo seria melhor.
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