domingo, 9 de novembro de 2014

Diário de supermercado 1: Comprando superpoderes



Percebendo minha inaptidão em manter regularmente uma vida não sedentária, tenho tentado praticar ao menos a redução de danos e modificar boa parte dos alimentos cotidianos. Esse não é um processo fácil e analisando os seus elementos percebo que essa parte do supermercado já me atingia sem eu sequer  nota-la, tudo dependendo da flutuação da moeda-dieta.

A indústria da boa forma é interessante, num dia chá verde cura tudo, no outro esquecem o chá e falam que é a linhaça, depois tudo vem com colágeno, para logo em seguida encontrarem um grão milagroso. É uma linha difícil de acompanhar a moda. Enfim, uma bolsa de valores onde a especulação entre o glúten, a lactose, as fibras e o chá dentox disputam o nervosismo do mercado. 

Nesse emaranhado de possibilidades vamos escolhendo: granola, bom, mas calórico; aveia, ótimo, mas tem glúten, que agora é ruim para todo mundo; iogurte desnatado; melhor, mas lactose agora incha. Tudo bem, sabemos as regras do jogo, o duro é quando a moda do carboidrato de baixo índice glicêmico atinge o seu cotidiano. Quando era só a batata-doce, tudo bem, mas agora a moda é a tapioca! Que desgraça, roubaram a tapioca da minha alimentação barata e não saudável.  Comprar fécula de mandioca virou fit. Maldição, meus amigos, maldição. 

Aliás, fécula de mandioca não! Goma, go-ma! Comida de cearense, comida diária, goma que você molha e peneira em casa e não essa coisa caríssima que já vem molhada, ensacada e que sequer fica resfriada nas prateleiras, quando você abre o pacote fica com um “cheiro de abafado e o calor já faz a coisa toda virar grude. Pois é, a tapioca subiu de status. Pior, o cuscuz também! Nada de tapioca com calabresa e bacon, carne seca com banana. Nada de uma farofa de cuscuz com ovos e muita manteiga. Agora tapioca é almoço, é cara e é servida com coisas verdes, sua farinha de milho, idem. Perdeu, playboy.

Mas ok, vamos lá continuar na prateleira. Vamos olhando, analisando, comprando, se alimentando e se lamentando até que chegamos nela, a rainha do momento, aquela que um saquinho minúsculo que deve conter uns trezentos gramas custa mais ou menos quinze reais. Imagino o que isso queira dizer: "compre essa farinha, fique sem dinheiro e emagreça por não ter como comprar outros alimentos". Não sei, provavelmente estou sendo jocoso e simplista demais, mas preciso deixar meu recado para essa estrela:

Querida Quinoa, não nos conhecemos pessoalmente, você para mim é igual caviar na música do Zeca Pagodinho, não sei suas propriedades, acho que continuarei sem saber, permanecerei apenas me relacionando com suas vizinhas linhaça e aveia, mas pelo seu preço, imagino que alguns grãos deem o poder da imortalidade, você deve ser realmente muito especial. Parabéns pelo valor e curta o tempo de fama, ele é efêmero, pois quando enquanto eu estava na fila do caixa vi uma capa dessas revistas femininas que dizia: “a nova erva, o chá de matcha acelera a queima de gordura em 40%”. Tremei, quinoa, tremei, quando sucumbir, por favor, leve minha goma junto. Oh vontade de comer uma tapioca!

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