sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

A Viagem


Era sua primeira viagem e mesmo assim resolveu ir só. Não queria ninguém ensinando o caminho, palpitando coordenadas, divagando possíveis certezas. Claro, ele bem sabia que existia o risco eminente de se perder, isso o excitava. Seu único temor estava na possibilidade de tropeçar em si mesmo no percurso, mas mesmo assim mergulhou.

Andou, correu,  sorriu, cansou. Sofreu, parou, pensou, chorou, dormiu, voltou... Estava confuso com relação ao trajeto, porém não reclamava, era assim mesmo que queria. O tempo o fez cair. Viu o chão.

Ao voltar, percebeu que mesmo abandonando sua casa, os seus bichos de estimação haviam sobrevivido. Os medos e os defeitos alimentaram-se do vazio. Seu cachorro estava morto.

Atônito, sussurrou: “Ainda bem...” 

Wescley Pinheiro

Um comentário:

  1. pensei nas muitas fugas, me identifiquei com esta necessidade e sua inutilidade.Encarar o tempo e o chão, a dura realidade...medos e defeitos de estimação.. quem não os tem?
    Sempre q. a gente vem no seu blog viaja em profundas reflexões e se delicia na autenticidade da forma.

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