sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Delírios


Estava angustiado e febril. Cansada de engolir em seco, sua garganta latejava como se quisesse vingança de todas as vezes que fora obrigada a relutar.
A náusea e a vertigem o animavam de forma contraditória. Era como se o fizesse lembrar que estava vivo e o obrigasse a expulsar de si aquilo que sempre foi. Agora, indubitavelmente, teria que materializar o caos.
Porque escrevia tão mal nunca entendeu. Sempre achou que escrever tinha algo diretamente relacionado com a dor que perfura o coração dos poetas. Ele tinha a dor não o talento. Mesmo assim fantasiou algum potencial devido à urgência da ocasião. As palavras vinham como coceira, eram inevitáveis, prazerosas, dolorosas, doentias.
O momento lhe pedia a realidade, mas ela se apresentava caleidoscópica, parabólica. Hesitou por um instante e vomitou por seus dedos os medos e as fantasias que se espalhavam cuidadosamente em doses homeopáticas, num receio psicótico, como se alguém o observasse.


Estava angustiado e febril. De alguma maneira isso o inspirava.

2 comentários:

  1. Olha..adorei o conto....acho q sou eu:P "Porque escrevia tão mal nunca entendeu. Sempre achou que escrever tinha haver com a dor que perfura o coração dos poetas. Tinha a dor, não o talento"

    ResponderExcluir
  2. Que bom que gostou Raquel! Bom, esse especialmente pensei em mim mesmo, hehehe

    Talvez sejamos todos nós que fazemos parte da Coalizão dos blogueiros de poucos leitores, hahaha

    Obrigado pela visita!!! Há Braços!!!

    ResponderExcluir