domingo, 17 de abril de 2011

O Retrato


Ele estava estupefato com sua capacidade de recortar os momentos. Observava com o entusiasmo que traduzia sensações que já havia esquecido. Não sabia como agir naquela situação. Tinha medo de seu magnífico poder de fazer o tempo parar, medo da capacidade de manipulação das cores, dos estilos, das posições.
O receio era constante. Ia de encontro com a necessidade implacável de ser espontâneo. Não conseguia não calar. O silêncio era a defesa mais próxima da face hipnotizada que o denunciava a todos os presentes.
Nunca vira algo transpirar ao mesmo tempo tanta pureza e ousadia. Lembrou-se das suas lástimas, não dele, mas dela, que se lamentava por não ser artista. Mal sabia que tudo em si era instrumento artístico, tudo era uma forma de iluminar os segundos em que estava presente.
Ali, ele podia ouvir uma canção que batizou de "saudade do amanhã". Ela saia, metafisicamente, de algo aparentemente estático.  Isso paralisava seu corpo, o deixava monossilábico. Agia como tolo ao passo que um turbilhão de pensamentos brigavam entre si dentro de sua mente e saltavam sintéticos por seus lábios inseguros com um mero: “bela foto”.
Era o retrato da fantasia. Distante e inalcançável. Restava-lhe a contemplação.

Wescley

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