O que me fez adentrar naquele lugar foi uma música, quase um ruído indecifrável, mas que eu tinha certeza conhecer. Não havia fachada, nem convite, muito menos um cardápio com o prato do dia escrito em uma lousa .
O espaço não era grande, seu ar pesado me fez lembrar de mim mesmo. As cadeiras desorganizadas e o movimento, quase um desfile, do único garçom, que não deixava o balconista ler cinco minutos sequer de seu jornal, foi o que mais me chamou atenção inicialmente.
A iluminação precária escurecia ainda mais o local repleto de uma arquitetura comum e triste, uma decoração quase transparente e um piso encardido com manchas sabe -se lá de quê.
Não estava lotado, mas todas as mesas pareciam ocupadas, todas com uma só pessoa. Caminhei por entre elas e encontrei uma única mesa vazia na parede oposta, ao lado do banheiro masculino, nela estava escrito “reservado”, sentei.
Enquanto aguardava ser atendido ouvia aquele ruído e observava os homens barbudos, silenciosos e tão idênticos nas mesas próximas a mim. Suas expressões eram inócuas, não se podia adjetivá-las, nada havia que mostrasse vigor ou cansaço, dor ou euforia, nada. A única coisa que pude notar é que eles pareciam com o balconista.
Eu os olhava querendo saber o que eles consumiam. Não sei que tipo de bebida essa gente bebe, mas assim como eu tinha certeza que conhecia aquela música, acreditava também que eu desejava uma bebida igual.
Eu os olhava querendo saber o que eles consumiam. Não sei que tipo de bebida essa gente bebe, mas assim como eu tinha certeza que conhecia aquela música, acreditava também que eu desejava uma bebida igual.
O ruído permanecia, vi que ele saia de uma velha vitrola lá dos fundos do bar, uma cozinha talvez, não havia ninguém lá. Alguns minutos de espera e o garçom, percebendo que o balconista tinha voltado a ler seu jornal, resolve se aproximar de mim.
Não me olha, retira uma flanela do bolso e passeia sua mão pela mesa, massageando-a sem nada limpar. Acena com a cabeça e eu quase silenciosamente digo: “um drink, por favor”. Sem hesitar, ele responde: - “Só temos prosa, daquelas bem amargas... é o que tem pra hoje”.
Wescley P.
É, palavras só se vendem à seco.
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