quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

O Bar do Escritor

O que me fez adentrar naquele lugar foi uma música, quase um ruído indecifrável, mas que eu tinha certeza conhecer. Não havia fachada, nem convite, muito menos um cardápio  com o prato do dia escrito em uma lousa .

O espaço não era grande, seu ar pesado me fez lembrar de mim mesmo. As cadeiras desorganizadas e o movimento, quase um desfile, do único garçom, que não deixava o balconista ler cinco minutos sequer de seu jornal, foi o que mais me chamou atenção inicialmente.

A iluminação precária escurecia ainda mais o local repleto de uma arquitetura comum e triste, uma decoração quase transparente e um piso encardido com manchas sabe -se lá de quê.

Não estava lotado, mas todas as mesas pareciam ocupadas, todas com uma só pessoa. Caminhei por entre elas e encontrei uma única mesa vazia na parede oposta, ao lado do banheiro masculino, nela estava escrito “reservado”, sentei.

Enquanto aguardava ser atendido ouvia aquele ruído e observava os homens barbudos, silenciosos e tão idênticos nas mesas próximas a mim. Suas expressões eram inócuas, não se podia adjetivá-las, nada havia que mostrasse vigor ou cansaço, dor ou euforia, nada. A única coisa que pude notar é que eles pareciam com o balconista. 

Eu os olhava querendo saber o que eles consumiam. Não sei que tipo de bebida essa gente bebe, mas assim como eu tinha certeza que conhecia aquela música, acreditava também que eu desejava uma bebida igual.

O ruído permanecia, vi que ele saia de uma velha vitrola lá dos fundos do bar, uma cozinha talvez, não havia ninguém lá. Alguns minutos de espera e o garçom, percebendo que o balconista tinha voltado a ler seu jornal, resolve se aproximar de mim.

Não me olha, retira uma flanela do bolso e passeia sua mão pela mesa, massageando-a sem nada limpar. Acena com a cabeça e eu quase silenciosamente digo: “um drink, por favor”. Sem hesitar, ele responde: - “Só temos prosa, daquelas bem amargas... é o que tem pra hoje”.

Wescley P.

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