segunda-feira, 20 de junho de 2011

Apologia


Vivemos ela
Comemos ela
Sentimos fome dela

Não é só tiros, socos e pontapés
É medo, é programa de TV
É mocinho contra bandido
É o soldo da justiça

É o vazio e é o cio
O altar e o mandamento
O pastor que nos ensina:
"Ofereça a outra face"


O tapa na moça
A lição de moral
É piada, brincadeira
É programa de governo

É vitrine, é riso e choro
É o nike por duzentos reais
O lado coca-cola da vida
Com seus sorrisos e cirroses 

É o salário mínimo
É o trabalhador cansado
Se esmurrando com o colega
Por um lugar na condução
É a novela no Leblon e seus dramas
O núcleo pobre sem esgoto a céu aberto
Os gritos da polícia no sortudo jovem negro
Que volta da faculdade

O cassetete certeiro nas costas do militante
A cerca, os muros e a devastação
Os passaportes e os carros fortes
A fome, a sede, a gula

O corredor do hospital
A fila do posto de saúde
A aposentadoria
A escola particular
O lindo carro importado 
Em meio aos miseráveis do sinal

Somos Nós
Vítimas, algozes, cúmplices
Produtos e produtores
Hoje, a violência somos nós


Wescley

Um comentário:

  1. É acordar todo dia e abrir a porta para esse mundo como se tudo fosse normal.

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