Respeitável público, no bonde dos
iludidos, nas alas das vitórias inglórias e das derrotas tão rasas, quem
consegue sustentar mais suas mentiras? As apostas nunca acabam! O blefe também.
Diante de uma ameaça
terrível que é uma suposta volta de um governo tucano (toc, toc, toc) o drama
se torna o centro da trama eleitoral. Surgem aqueles que se calaram por tanto
tempo e se juntam aos cacos e clichês das falas que já se tornaram conhecidas mas
que não mais convencem. Esquecendo seus próprios erros, aparece um cinismo
pedante que quer responsabilizar quem sempre criticou as incoerências.
Como acredito que o medo, a pressa, o pavor e a comoção são
combustíveis da barbárie, me sinto obrigado a parar e refletir sobre isso.
Desculpem, mas antes de continuar, antes de dizer o óbvio, antes de reafirmar
que o PSDB representa a calamidade política desse país, não há como compactuar
com o mero pacto da mediocridade.
Vi um meme aqui no
facebook: "votar no PSDB para tirar o PT do poder é como comer merda para
parar de comer mc donalds". Concordo com a comparação do PSDB com as
fezes, mas a do PT é bastante generosa, pois o tal sanduíche é uma porcaria,
mas não chega ao nível desse governo. É preciso combater o PSDB sem fingir que
o PT é pelo menos razoável, pois não é.
Aí saltam as cobranças,
surgem os discursos inflamados e as denúncias sobre a tragédia tucana. Há muita
razão nisso. O que não é crível são os olhos e as cortinas fechadas para o que
o PT fez e faz. A angústia dessa falsa polarização é mote desse meu texto. Eu
realmente não queria falar do PT agora, vou tentar nem falar nas próximas
semanas, até por que, como diz o ditado popular, "um governo do PSDB é
ótimo, mas morrer queimado é melhor". Só me permitam desabafar nesse
momento. Só me permitam não me calar diante de tanto cinismo.
Eu não queria falar do PT
pois no PSDB temos o que é de mais vil, o antro de conservadores, elitistas,
oportunistas e tudo mais de ruim. Mas fica difícil quando a síndrome de
labirintite político-ideológica de muitos do Partido dos Trabalhadores querem
eternizar essa falsa polarização para somente permanecer aprofundando o
"seu" social-liberalismo. Fica difícil quando o jogo de palavras se
torna cada vez mais esgotado pela própria lógica do governo que em mais de uma
década tem como modelo eleitoral se tornar ainda mais parecido com aquilo que o
ameaça: "se o agronegócio ameaça nossa eleição, nos pareçamos com eles, se
os fundamentalistas religiosos ameaçam nossa eleição nos pareçamos com eles, se
os tucanos..." enfim, entenderam, né?
Pois é, eu não queria falar
do PT por que acho que quem fala que o PSDB é muito pior AINDA tem razão, mas
tem cada vez menos, pois eu só vejo interesse desse partido em buscar
diferenciação substancial nas bravatas cotidianas de suas bases e nos períodos
eleitorais como o de agora e somente para parte do eleitorado, para a elite o
discurso é que "somos além de parecidos, melhores".
Até quando o único
argumento será o medo do passado para sermos escravos do presente? Quanto foi
feito para o processo de avanço de participação popular, de politização, de
edificação de uma contra-hegemonia de esquerda nessa última década para que os
militantes de esquerda - que foram caçados nas ruas ou nos ambientes de
trabalho por esse governo - tenham mínima confiança de que “daqui pra frente
tudo será diferente”? Será que não há ninguém para falar sobre isso além de
dizer "o PSDB é pior"? Isso eu já sei.
Acredito que aqueles que farão a opção pelo menos pior tem todo
o direito de fazê-la e tem ainda alguns argumentos para isso, mas não aceito o
dedo em riste para cima de quem sofreu perseguição e/ou que sempre denunciou
que as alianças e as táticas do governismo sempre levariam ao mesmo lugar.
Estão como medo de quem
Marina(aquela reacionária!) vai apoiar? Quem foi que a projetou? Por que não
acham que tem como acreditar que ela se tornou isso só a partir de 2010, né?
Estão com medo da campanha dos fundamentalistas religiosos? Quem afinou
diversas vezes para Marcos Feliciano, Malafaia e Cia? Nesse espetáculo tem
perguntas que ninguém quer responder. Sabe, eu também não quero o PSDB no
poder, nem quero Collor, Calheiros, Ferreira Gomes, Sarney, Kátia Abreu....
Sabe, eu não quero o PSDB e sua política entreguista no poder, nem quero as
contra-reformas travestidas de benfeitorias que estão em curso. Sabe, que tal
um debate mais politizado, que tal autocrítica, que tal a afirmação de uma
divergência real? Parece impossível?
Que tal o PT parar de
alimentar os monstros e depois exigir ajuda para acabar com eles? Pedirei algo
mais simples, que tal pelo menos a parcela de militantes que está por aí nas
bases refletir sobre suas práticas desonestas que atingem aqueles que ousam
divergir do governo e do partido? Que tal aproveitar o momento para pensar e
não mais beneficiar suas patotas políticas e boicotar quem faz crítica de
esquerda nos espaços das categorias profissionais, nos movimentos sociais ou
mesmo nos espaços de trabalho? Ou vão dizer que ninguém conhece pelo menos um
caso desses?
Não seria de bom tom se
pudéssemos dizer que além do PSDB ser mais corrupto, mais elitista, mais
privatista ele também tem mais gente escrota que se identifica com o partido e
busca minar qualquer pensamento diferente nos espaços que tem algum poder?
Nesse quesito, tucanos e petistas já estão em empate técnico, com alguma margem
de erro.
Eu não queria falar do PT
agora e desejo que ninguém vote no PSDB, mas cinismo não é algo razoável. E
vejam que eu não estou tocando na essência da coisa, vejam que estou sendo
trivial, observem que não estou falando sequer da política econômica, da agenda
do Banco Mundial cumprida à risca, nem perderei meu tempo repetindo o que
dezenas de analista críticos e competentes já disseram do famigerado neodesenvolvimentismo.
Aqui somente estou cobrando a responsabilidade do PT em não conseguir politizar
e se diferenciar de verdade, por que parece que de repente, não mais que de
repente, o inferno são sempre os outros.
Quando termina o apoio
crítico e começa o pacto da mediocridade? Como já disse uma vez, é chato, mas
preciso me dirigir aos atores desse show, aqueles que passeiam em baixo do sol
de dois em dois anos, que animam-se em gritos e guerras, que torcem, que
engolem a tosse e mordem a língua em busca do banquete do poder. Alianças
tantas, tão frígidas quantos reais apareceram e desapareceram com o mesmo teor
de mágica. Em prateleiras tão pobres as escolhas escassas se sobrepuseram com
muito espetáculo, poucos amores e tantas paixões. Meras bravatas não cabem mais.
“Debateremos projetos
distintos” – falam os semelhantes entre si e desiguais entre tantos. Espelhos
que refletem o que muitos querem esconder, pinturas fantasiosas, fotografias
mil, poucos retratos e menos ainda a merecida retratação: eis a eleição! Essa
caixa de Pandora tão emblemática revelando cisões, dilemas e mitos. E hoje? E
amanhã? O que farão aqueles que apostam errado? É hora de esquecer tudo “em
nome de continuar mudando”? Quando poderemos discutir de verdade? Há lições a
serem aprendidas em um pleito ou esse é um campo definitivo de claques e
claquetes? As acusações de hoje se anulam com os abraços de ontem? Há
possibilidade dessa peça não ser farsa? Duvido muito.
Se a eleição passa e o povo
fica, só almejo que fiquemos! Fiquemos vigilantes e atuantes ali onde a urna
não chega. E que aqueles que se escorraçam hoje sejam coerentes suficientes, a
partir de agora pelo menos, para fazer diferente, se isso é permitido. Duvido
muito.
Entre o barulho das
buzinas, dos jingles e dos fogos ficam aqui ensurdecidas tantas interrogações:
Que tal não esperar o leite derramar para começar o chororô? Que tal não
alimentar monstros, acariciá-los e depois colocar o dedo em riste em uma busca
autoritária e desesperada por ajuda para deixar o seu cínico parceiro transformar-se,
no acender das luzes, no mais tenaz adversário?
Ah essas lições! As lições
de casa que nunca são feitas e que aparecem em tantos papéis voando, espalhados
pelas ruas, prometendo a colheita da felicidade, do amor e do carinho num
terreno onde se plantou egoísmo e cinismo. Hoje não aplaudo o drama nem a
dramatização. Queria eu acreditar que agora pudesse ser diferente.
Queria eu não precisar
falar do PT. Estou convicto que o pior cenário para o país é ter o PSDB no
poder, mas não posso me furtar de colocar minhas angústias por novamente me
deparar com os mesmos argumentos de sempre. Não posso me furtar de lamentar.
Nenhum voto em Aécio?
Nenhum!!!! Do resto eu já não sei, espero um debate coletivo, responsável e
sincero, pois participar de mais um teatro eleitoral por migalhas não me
apetece.
Se
o voto é contra o PSDB, se o voto é nulo, se o voto é no PT, isso depende de
cada um e dos debates coletivos das forças políticas. Eu queria mesmo alguma
autocrítica de quem apoiou e apoia esse governo. Novamente, duvido muito. Mas
seja quem for o/a mestre de cerimônia desse circo, ela ou ele poderão me
encontrar do lado de fora, nas ruas, com o povo que pede transformação.